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Preta Gil, diagnosticada em janeiro do ano passado com adenocarcinoma na porção final do intestino, anunciou na última quinta-feira (22), através de um comunicado publicado nas redes sociais, que retomará o tratamento oncológico. A nota, publicada no Instagram da cantora, diz que após a internação para realizar exames de rotina, em 21/08, foram descobertos dois linfonodos na pelve, estruturas localizadas na região pélvica que filtram substâncias nocivas do corpo.
Em dezembro de 2023, Preta Gil havia finalizado seu tratamento, que contou com sessões de quimioterapia, radioterapia e duas cirurgias. Contudo, vale lembrar que casos de recidiva podem ocorrer para diferentes tipos de câncer.
De acordo com o oncologista Artur Ferreira, da Oncoclínicas São Paulo, a recidiva ocorre quando o tumor retorna, podendo ser identificada tanto durante a consulta médica quanto por meio de exames complementares. “Quando há essa suspeita, é necessária a confirmação do diagnóstico através de exames complementares tais como tomografia computadorizada, ressonância magnética, PET-CT ou, eventualmente, biópsias das áreas afetadas. A recidiva pode ocorrer na área originalmente tratada ou em outros locais, como linfonodos, pulmões e fígado”, explica.
O especialista acrescenta que, mesmo após um tratamento bem-sucedido, o câncer pode voltar devido à resistência intrínseca de algumas células ao tratamento inicial. “Nesses casos, a terapia recomendada será definida após uma investigação médica detalhada e uma discussão aprofundada entre o médico e o paciente. É importante destacar que a recidiva tumoral geralmente reduz as chances de cura da doença”, conclui.
Diagnóstico e tratamento dos tumores de intestino
O tumor colorretal ocorre com maior frequência após os 50 anos e pode se desenvolver no intestino grosso ou no reto. Vale lembrar ainda que o principal tipo de tumor colorretal é o adenocarcinoma e, em 90% dos casos, ele se origina a partir de pólipos na região que, se não identificados e tratados, podem sofrer alterações ao longo dos anos, tornando-se cancerígenos.
No entanto, é preciso olhar também para o diagnóstico em pessoas mais jovens. Um dos estudos científicos que embasam a argumentação foi publicado no Journal of the National Cancer Institute e realizado nos Estados Unidos de 1974 até 2013. A análise mostrou que nas pessoas entre 20 a 39 anos de idade, por exemplo, o número de novos casos de câncer de intestino vem crescendo anualmente, entre 1% e 2,4%, desde a década de 1980. Já os casos de câncer de reto, nas pessoas entre 20 e 29 anos de idade, tiveram um aumento anual médio de aproximadamente 3,2%, desde 1974. No Brasil, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), são esperados para cada ano triênio 2023-2025, 45.630 novos casos de tumores de intestino.
De acordo com o oncologista da Oncoclínicas São Paulo, é muito importante que a população conheça os sinais do câncer colorretal e procure por um especialista o quanto antes. “Apesar da doença muitas vezes ser silenciosa, o paciente deve observar se há alteração no hábito intestinal, tais como constipação, diarreia, ou estreitamento das fezes, ausência da sensação de alívio após a evacuação, como se nem todo conteúdo fecal fosse eliminado, sangue nas fezes, cólica, dor abdominal, perda de peso sem motivo aparente, fraqueza e sensação de fadiga”, explica.
Quando o câncer colorretal é diagnosticado em sua fase inicial, a maioria dos casos, felizmente, é curável. Por isso, é essencial que o diagnóstico aconteça precocemente, aumentando assim o sucesso do tratamento. “A equipe médica irá avaliar cada caso individualmente, selecionando as estratégias e melhores opções disponíveis para o paciente”, comenta o oncologista da Oncoclínicas São Paulo.
Os tratamentos para a neoplasia podem ser definidos em dois tipos:
● Tratamentos locais (cirurgia, radioterapia, embolização e ablação): agem diretamente no tumor, sem afetar o restante do corpo. Pode ser realizado nos estádios iniciais ou ainda no tratamento de pequenas lesões metastáticas;
● Tratamentos sistêmicos (quimioterapia, imunoterapia ou terapias-alvo): podem ser realizados por drogas orais (comprimidos) ou endovenosas (na veia), aplicando diretamente na corrente sanguínea.
Vale lembrar ainda que o câncer colorretal é um tipo de neoplasia que pode ser evitado, ainda em sua fase pré-cancerosa. O procedimento consiste na retirada dos pólipos, que podem surgir na parede interna do intestino grosso.
“Diferente do câncer de mama, por exemplo, onde a doença é identificada geralmente em fase inicial com os exames de rotina, o tumor colorretal pode ser descoberto na fase pré-cancerosa com a colonoscopia”, explica.
É possível prevenir?
Dentre os fatores de risco do câncer colorretal, é possível observar uma relação com os hábitos alimentares e de vida, além de condições prévias de saúde. Como forma de prevenção, o médico reforça que é necessário seguir algumas orientações.
“Deve-se investir em uma dieta rica em fibras e uma menor ingesta de carnes vermelhas e processadas, praticar atividades físicas, evitar bebidas alcoólicas e tabagismo e manter um peso saudável. Além disso, é importante investigar se o paciente possui demais riscos, como a doença de Crohn ou colite ulcerativa (ambas doenças inflamatórias crônicas do intestino) além de histórico familiar de casos de câncer colorretal”, conclui Artur Ferreira.
Panorama global do câncer
Atualmente, considerando uma prevalência de 5 anos da doença, a OMS informa que aproximadamente 53,5 milhões de pessoas estão vivendo com câncer em todo mundo, sendo que 1,6 milhão delas estão no Brasil – um número que, conforme as perspectivas da entidade, seguirá crescendo.
As projeções indicam uma tendência de elevação dos índices mundiais de detecção do câncer, chegando ao patamar médio de aumento de 77% em 2050 quando comparado ao cenário registrado em 2022, com 20 milhões de novos casos da doença. Isso significa que nas próximas décadas uma a cada 5 pessoas terá câncer em alguma fase da vida.
Em 2022, 10 tipos de câncer representaram dois terços dos novos casos e dos 9 milhões de óbitos decorrentes da doença. O de pulmão foi o mais comum em todo mundo, com 2,5 milhões de diagnósticos (12,4% do total), seguido do câncer de mama feminino (2,3 milhões, ou 11,6%), colorretal (1,9 milhão, 9,6%), próstata (1,5 milhão, 7,3%) e estômago (970 mil, 4,9%). Globalmente, tumores de pulmão (18,7%), colorretal (9,3%) e fígado (7,8%) foram as principais causas de óbito pela doença.
No Brasil, dos 1.634.441 pacientes oncológicos em 2022 — incluindo os novos casos e aqueles diagnosticados em cinco anos —, 278.835 morreram, principalmente de tumores de pulmão, mama feminino e colorretal. As três maiores incidências foram próstata (102.519), mama feminino (94.728) e colorretal (60.118). O risco de desenvolver qualquer tipo de câncer no país antes dos 75 anos foi de 21,5%, sendo maior (24,3%) entre os homens.
Considerando a previsão de novos casos em 2050, o Brasil deve registrar 1,15 milhão de novos casos, um aumento de 83,5% em comparação a 2022. As mortes por câncer também devem ter um aumento considerável: 554 mil, 98,6% a mais do que o atual volume registrado de óbitos pela doença no país.