Um dos desafios mais difíceis de saúde pública na atualidade é a luta contra o estigma em relação à saúde mental. Embora seja muito comum encontrar pessoas com problemas relacionados, a população que vive com condições mentais afetadas muitas vezes sofrem discriminação e são tratadas de forma diferente. O estigma e a discriminação atrapalham e podem até impedir que as pessoas busquem ajuda no caminho para a recuperação.
Segundo uma pesquisa feita pela YouGov, multinacional especializada em pesquisa de mercado on-line, apenas 25% da população brasileira acredita que os estigmas referentes às doenças mentais estão desaparecendo. Enquanto 81% do público feminino dizem que conversar sobre saúde mental é importante, 73% dos homens pensam o mesmo. Mas em geral, 77% das pessoas entendem que conversar sobre saúde mental é importante.
Ainda de acordo com o levantamento, cerca de 14% das mulheres sofrem com quadros depressivos, contra 6% dos homens entrevistados.
“É ideal trazer o conhecimento para desmistificar assuntos sobre saúde mental, pois muitas pessoas ainda têm preconceitos associados à doença mental. As pessoas têm vergonha e medo de serem julgadas como ‘loucas’, mas todos, sem exceção, precisam de apoio emocional. E as mulheres, principalmente, por terem inúmeras tarefas, a sobrecarga e o acúmulo de tarefas que também trazem malefícios para a saúde mental. E vale ainda dizer que são elas as mais propensas a adoecer mentalmente” explica Lucas Ledo, pesquisador na área de saúde da mulher e perinatalidade.
Psicólogo (CRP 11/13089) curador e coordenador da Amar.elo Saúde Mental, startup que leva o bem-estar emocional para o ambiente corporativo, Lucas afirma que é essencial às empresas fazerem movimentos para implementar políticas que possam auxiliar as colaboradoras: “Costumo dizer que precisamos debater mais sobre a saúde mental da mulher, mas além de desmistificar, também trazer a importância sobre a construção de políticas internas e públicas que deem assessoria e assistência a essas mulheres que trabalham e que precisam ser ainda mães, esposas e ainda se dividir em todos esses papéis sociais”, comenta.
Desde o início da atuação da startup, em setembro de 2021, as mulheres são as que mais procuram atendimento terapêutico, representando 76,7% da demanda.
Exaustão em “super mulheres”
Naturalmente, muitos têm a visão de que a mulher que assume os acúmulos de papéis é uma guerreira. Mas, segundo o psicólogo Lucas Ledo, é importante entender que quando se administra uma nomenclatura ou até um rótulo de que a mulher é guerreira, de certa forma se está romantizando todo o cansaço da mulher no século 21.
A exaustão é algo que grande maioria das mulheres que trabalham e cuidam dos demais papéis sociais sofrem, e ainda pode-se dizer que são elas que têm acessado maior nível de burnout.
“Jamais temos que esquecer que por de trás da mulher guerreira pode ter alguém muito cansado e doente emocionalmente. Neste mês, em que se volta uma atenção especial a elas, precisamos também abordar a divisão de papéis de uma forma que a população entenda o que podemos fazer com relação a isso. Tem sido as mulheres que têm acessado níveis maiores de burnout, ansiedade, depressão, desamparo e falta de rede de apoio (formal ou informal)”, revela.
A rede de apoio, sendo ela formal (onde as políticas públicas cedem assistência às famílias que necessitam) ou a informal (apoio de avó, mãe, pai, amigo) se faz necessária quando as mulheres chegam ao seu limite, e vale ressaltar que não é necessário chegar ao limite para pedir ajuda.
Segundo com Lucas Ledo, as empresas também têm responsabilidades em trazer e oferecer um cuidado com a saúde mental das mulheres, porque quando se observa e cuida se terá uma equipe mais engajada e feliz dentro das empresas.
“Reforçamos a necessidade de construções de políticas internas de cuidado transversal de saúde da mulher para que possa se sentir amparada. E vale dizer que muitas vezes é somente dentro do trabalho que essa mulher vai ter um cuidado viável em saúde. Então, é sim responsabilidade das instituições corporativas oferecer um cuidado mais intenso para essas mulheres, não só neste mês do dia da mulher, mas que sejam políticas contínuas” finaliza.