Nunca houve tantas notícias em torno das mulheres. Algumas sobre suas conquistas e empoderamento. Outras sobre violência e desrespeito. Mas aqui vamos falar sobre a saúde física e mental, direito fundamental para quem desempenha um papel importante em todas as áreas da sociedade, da história, da família.
A saúde da mulher envolve prevenção de doenças, conscientização sobre seu corpo, combate a certas questões socio-culturais, transformando-a em um compromisso de toda a sociedade preservar a saúde, a segurança e a qualidade de vida delas. Por isso, vamos falar sobre uma doença que está presente no dia a dia das mulheres, tornou-se expressão comum para dias difíceis, mas que pode significar um transtorno mental – o TDPM.
Uma das formas pela qual o corpo feminino se comunica é por meio da menstruação. Durante esse período, a TPM (Tensão Pré-Menstrual) pode causar mais de 150 sintomas em 75% das mulheres. Porém, uma em cada vinte mulheres sofre de uma doença chamada TDPM (Transtorno Disfórico Pré-Menstrual), causado por uma alteração genética nos receptores de serotonina (neurotransmissor que regula o humor, o sono, o apetite e a dor), que provoca reações emocionais desproporcionais aos eventos externos.
De acordo com a nova versão do Manual Diagnóstico de Transtornos Mentais da Associação Americana de Psiquiatria (2013), o TDPM é um subtipo de transtorno mental, que pode provocar crises depressivas, impulsividade, agressividade e irritabilidade extremas. Existe, inclusive, risco de suicídio e agressões físicas nessa forma grave de TPM.
A TPM não é uma doença, mas um conjunto de sintomas que podem ocorrer mensalmente antes da menstruação, como dores de cabeça, inchaços, cólicas, dores no corpo etc, que podem ser aliviadas com atividades físicas regulares e hábitos alimentares adequados. No entanto, uma parte das mulheres que sofrem de TPM apresentam esse transtorno mental sério e grave, que requer tratamento com psiquiatra especializado em saúde mental feminina.
A TDPM segundo Dra. Vanessa Jaccoud
“A especialidade que cobre essa área, justamente a psicossomática, onde sou especialista, realiza este encontro de conexão entre corpo e mente, e todas as especificidades e áreas que estão dentro das situações possíveis, tanto física quanto mental. A psicossomática é essa especialidade que cobre tudo isso.
A temática é muito importante, principalmente agora na contemporaneidade, porque as pessoas falam muito atualmente de ansiedade isolada e outros acometimentos. Mas, por exemplo, recentemente uma paciente minha em Portugal, que começou a fazer frequentemente um circuito nada saudável de oscilações humorais e perdas, inclusive relacionais devido a esse desequilíbrio que ela estava se submetendo de forma contínua, me chamou muita atenção, pois tem inclusive na herança familiar quadros severos na saúde mental. Eu ampliei os atendimentos para entender melhor esta ciclagem e comecei a apontar a necessidade de fazermos um rastreamento do decurso menstrual mensalmente, descrevendo como eram os sintomas do período total, os pré-menstruais, e toda a parte de regulação hormonal foi também rastreada.
Então ela foi referenciada ao médico, realizou todos os exames, e o rastreamento necessário para acompanharmos o que havia ali, ela sofria muito com essas oscilações humorais e a relação conjugal dela de anos foi “terminada” por esta razão de desgaste. Nesse rastreamento, feito como um diário, fui conectando e entendendo ali elementos que no decurso do mês, faziam um prenúncio de que ela seria acometida por essa brusca oscilação. São como disparos, desníveis próximos a esse período pré-menstrual justamente que causam essas efusões – esse extremo desconforto que culmina em episódios gravíssimos de raiva e desregulação severa muitas vezes.
Então, a partir desse percurso, finalizei o entendimento e fechei o diagnóstico de TDPM, onde consegui trazer uma qualidade de vida muito melhor para a paciente, que é uma mulher nulípara (que não gestou ainda), inclusive trabalha, tem uma vida ativa, mas nesses dias, ela dizia que parecia estar “fora do corpo”, que não era ela mesma, depois tudo voltava ao normal. Viver assim para ela e outros é um incômodo extremo, associado a uma série de perdas onde precisamos estar sempre atentos. Justamente pela mulher acabar levando aquele estereótipo de “louca”, “doida” e “descompensada” nas emoções, o entendimento todo muitas vezes piora ainda mais e em nada ajuda. Não tem nada disso! Nós temos uma questão muito séria na saúde da mulher, principalmente nesse ponto específico, e a partir do tratamento correto como encaminhamento da psicossomática à psiquiatria e também junto ao ginecologista, eu como especialista pude fazer esse alinhave todo, essa grande costura de melhora para minha paciente, e hoje a relação conjugal dela foi retomada e eles tem uma nível de qualidade de vida excelente, sem essas oscilações do percurso e sem enfrentamentos, os quais para ela eram impossíveis. Ressalto que inclusive já foi cogitada a ideação suicida pela paciente, já que não havia um diagnóstico concreto que explicasse seus sintomas nesses dias.
Graças a Deus conseguimos entender e aqui está a informação para ser explicitada e disseminada com qualidade para as pessoas se colocarem minimamente sujeitas a uma visão técnica do que possa estar acometendo quando esses desequilíbrios e desconfortos possam ser tamanhos a ponto de perdas e muitos sentimentos serem incluídos na vida de alguém. Sempre dá para melhorar!”
Sintomas de TDPM
Além dos sintomas comuns da TPM, como dor nos seios, inchaço abdominal, cansaço ou alterações do humor, pessoas com transtorno disfórico pré-menstrual devem apresentam sintomas do tipo emocional ou comportamental, como:
. Tristeza extrema ou sensação de desespero
. Ansiedade e estresse excessivo
. Alterações bruscas de humor
. Irritabilidade e raiva frequentes
. Crises de pânico
. Insônia
. Dificuldade na concentração
Exemplos de tratamentos
. Antidepressivos, que ajudam a aliviar os sintomas de tristeza, desespero, ansiedade e alterações do humor. Também podem melhorar a sensação de cansaço e dificuldade para dormir.
. Pílula anticoncepcional, regulando os níveis hormonais durante todo o ciclo menstrual e reduzindo os sintomas da TDPM.
. Analgésicos, que aliviam a dor de cabeça, as cólicas menstruais ou a dor nos seios.
. Cálcio, vitamina B6 e magnésio, que também pode ajudar a aliviar os sintomas, sendo consideradas uma opção natural.
. Plantas medicinais capazes de reduzir a irritabilidade e as alterações de humor frequentes, assim como a dor nos seios, inchaço e as cólicas menstruais.
Mas, além desses tratamentos, é importante buscar um estilo de vida saudável, uma dieta equilibrada, prática de exercício físico pelo menos 3 vezes por semana e evitar substâncias como o álcool e o cigarro.