Crédito: Joakim Fotografias / Nilo Rocha
Um ato de resistência contra o esquecimento e a indiferença é como se define a peça “Só Para Não Esquecer” que será encenada no próximo dia 06 de junho de 2025, às 19 horas, no Centro Cultural Arte de Viver, localizado à Rua Samuel Uchôa – 395, no bairro Montese, em Fortaleza (CE). Logo após a apresentação, haverá roda de conversa sobre o espetáculo com a defensora pública Aline Miranda e a psicóloga clínica Grasieli Lustosa. A programação é uma realização do Teatro da Solidão Solidária em parceria com a Companhia Teatro Movimento.
O espetáculo é, também, um grito cênico contra a transfobia que mata todos os dias com tiros, silêncio, arrogância e desprezo. Ele mostra a história da Dandara dos Santos que não morreu apenas pelas mãos de seus algozes, morreu pela omissão de uma sociedade que se recusa a enxergar a humanidade das pessoas trans. Dandara foi assassinada brutalmente em 2017.
Apedrejada, espancada, humilhada em público, arrastada pelas ruas como se seu corpo não valesse nada, foi assim o triste fim da Dandara dos Santos que era vida, travesti e coragem. E é por ela que esta peça existe. Este solo interpretado pelos atores John White, Alec Bessa e Cléber Morais é denúncia, luto transformado em linguagem, indignação que pulsa… Dandara não é estatística, nem número em relatório. Ela é rosto, voz, memória e sua história não será enterrada com o corpo que tanto tentaram aniquilar.
É importante frisar, que ser travesti no Brasil é sobreviver, é também, desafiar o ódio com a própria existência. É enfrentar um país que, em pleno século XXI, ainda nega dignidade a quem ousa ser diferente. Em cena, Dandara vive. E nos obriga a lembrar. Porque esquecer será repetir. No Brasil parece não haver espaço para o diferente! Existem regras a serem seguidas e quem não se enquadra? Não poderia ter o direito de existir?
Antes da pandemia da Covid-19 que abalou o mundo dizimando muitas pessoas, a Companhia Teatro Movimento apresentou o espetáculo “Só Para Não Esquecer” no seu Estado de origem, o Ceará; na Universidade de Brasília (UnB), no Distrito Federal e, também, em São Paulo (capital) e, ainda, na cidade de Simões Filho, localizada no Estado da Bahia.
Premiações
Em janeiro de 2025, o espetáculo “Só Para Não Esquecer” ganhou o Prêmio de Menção Honrosa pela Pesquisa Cênica, na 18ª edição do Festival da Cia Teatral Acontece (Fecta) realizado em Fortaleza (CE). Já, em março deste ano, no município de Caieiras, em São Paulo, o solo conquistou o Prêmio de Pesquisa e Inovação do 1º Festeca – Festival de Teatro de Caieiras / Prêmio Sérgio e Camargo.
Mas o sucesso continua para a Companhia Teatro Movimento. Em abril de 2025, a instituição teatral chegou a participar com o “Só Para Não Esquecer” do 9º Festival Abril para o Teatro na cidade de Caruaru, no Agreste do Estado de Pernambuco, onde conquistou duas premiações: a de Melhor Ator Nacional para John White que se destacou na Categoria Drama e, ainda, a de Melhor Personalidade Nacional.
E quem disse que as premiações param por aqui? Em maio do corrente ano, o espetáculo “Só Para Não Esquecer” ficou com três destaques de categorias diferentes do V Festival de Esquetes Teatrais de Rua do Sertão Central QCena, realizado na cidade cearense de Quixeramobim: o de Melhor Sonoplastia, o 3º Melhor Espetáculo do Júri Oficial e, também, o Prêmio Especial de Melhor Pesquisa Cênica.
Teatro da Solidão Solidária (TSS)
Criado em meados dos anos 90 pelo dramaturgo e diretor de teatro pernambucano, Ivan Antonio, o Teatro da Solidão Solidária (TSS) é um método artístico e de inclusão social por meio da arte. Ele surgiu graças à pesquisa sobre a solidão humana feita pelo seu idealizador que, durante duas décadas, chegou a dormir de 5 a 10 dias por ano com pessoas em situação de rua, pesquisando sobre a solidão humana. Em seus 10 primeiros anos, a pesquisa se deu no Brasil e, depois, em países da Europa, América Latina e EUA.
Presente em vários lugares do mundo, o TSS instalou-se em Fortaleza – Ceará, através da atriz e diretora de teatro da Art´Cena Produções, Mharcia Ribeiro, parceira de Ivan desde o ano de 1998. Hoje, a artista faz parte da coordenação nacional do Teatro da Solidão Solidária e, na capital cearense, onde as ações são contínuas de 2017 pra cá, Mharcia comanda o método juntamente com a defensora pública Aline Miranda e a contadora Creusimar Lima.
O ano de 2025 iniciou-se para o Teatro da Solidão Solidária com diversas atividades desenvolvidas por seus parceiros. São ações como intervenções artísticas, rodas de conversa e terapêuticas voltadas para crianças, adultos e idosos em situação de vulnerabilidade social.
Programação
A peça “Só Para Não Esquecer” integrará a programação que será, na verdade, uma dupla celebração: Homenagem a Ivan Antonio que aniversaria na data de 5 de junho que marcará também, o Dia Municipal do Teatro da Solidão Solidária aprovado através do Projeto de Lei de Nº 1.739/2022, em 03 de maio do referido ano, na Câmara Municipal de Camaçari, no Estado da Bahia.
Para Mharcia Ribeiro, celebrar em Fortaleza o Dia Municipal do TSS em Camaçari, com “Só Para Não Esquecer”, diz respeito à proposta inclusiva do espetáculo ao dar voz aos marginalizados por sua sexualidade. A artista também acrescenta: “A peça reflete sobre transfobia, desprezo, arrogância e, principalmente, respeito, que é de direito de todos, e que se faz tão necessário e urgente ser colocado em prática ao olharmos para o diferente.”
A coordenadora do TSS no Ceará lembra ainda: “É, também, trazer mais visibilidade para o TSS, um projeto que já tem 30 anos e merece ser cada vez mais difundido pela sua importância. É celebrar nossa cultura e uma linguagem artística de resistência e de uma potência indescritível, que é a linguagem teatral. O Teatro da Solidão Solidária é, também, um movimento de cultura de paz e, inquestionavelmente, precisamos amar mais, nos abraçar mais”, enfatiza Mharcia.
Serviço:
Peça: Só Para Não Esquecer
Dia: 06 de junho de 2025 (Sexta-Feira)
Horário: 19 horas
Local: Rua Samuel Uchôa, 395 – Montese – Fortaleza (CE)