Um material inédito e revelador sobre o ciclo completo de decadência que resultou na privatização da Companhia Energética de Goiás, a Celg. Em O capitalismo mundial e a captura do setor elétrico na periferia, o engenheiro elétrico Salatiel Pedrosa Soares Correia reconstitui os processos históricos daquela que chegou a ser a maior estatal goiana, desde a fundação, em 1956, até a total descapitalização da empresa. Durante 20 anos, o ex-funcionário, hoje aposentado, juntou documentos que revelam o uso político e ações predatórias do Estado sobre a companhia, justificadas, segundo ele, pelo falacioso discurso desenvolvimentista.
Mestre em Planejamento Energético pela Unicamp, Salatiel denuncia contratos de compra de energia sobredimensionados, feitos sob medida para beneficiar interesses menores da política de clientela. Em programas de irrigação, por exemplo, os investimentos em suporte elétrico chegavam a ser 3,6 vezes maior que o necessário. O mesmo se identificou na eletrificação rural, cujos aportes foram 28 vezes maiores que a demanda de crescimento da agropecuária no período correspondente.
Com as alterações na dinâmica da economia, as regras do setor elétrico para a remuneração
dos investimentos mudaram, e estes passaram a ser contabilizados pela sua eficiência e não
mais, como ocorria antes, pelo total investido no sistema, estivesse ocioso ou não. Deste modo,
os sobreinvestimentos cobraram seu preço nos novos tempos, de economia estabilizada.
No caso da concessionária goiana de energia, em termos monetários, esse preço girou em torno
de 332 milhões de reais. (O capitalismo mundial e a captura do setor elétrico na periferia, p. 184)
Foi neste cenário que o Estado optou por privatizar a Usina Hidroelétrica de Cachoeira Dourada. A consequência imediata foi a majoração do valor da tarifa de energia elétrica pago pela Celg. Isso representou, na prática, um prejuízo líquido da ordem de R$ 83 milhões, por conta dos termos do contrato que impedia a companhia de comprar energia de outras supridoras a preços mais acessíveis.
A aplicação dos recursos da privatização também foi abordada no estudo de caso, com destaque para o fato de que um montante de R$ 245 milhões não teve comprovada sua aplicação. Pagamento de diárias, locação de veículos e do salário de funcionários pela Secretaria de Solidariedade também estão entre os destinos dos recursos, conforme apuração de uma CPI instaurada pela Assembleia Legislativa do Estado.
“A pergunta que fica é: a privatização serviu ao desenvolvimento do Estado? A quem serviu?”, indaga o autor, que na obra dialoga com dois públicos: a primeira parte é dirigida a leitores interessados em compreender o processo de desmonte da Celg, a partir da privatização da Usina Hidroelétrica de Cachoeira Dourada. Já a segunda parte traz apêndices de conteúdo técnico, com a projeção de cenários: o otimista, com foco no equilíbrio econômico-financeiro; e o pessimista, sem a mudança estrutural tal qual se apresenta hoje.
Em meio a outros movimentos privatistas no país, a exemplo da Eletrobras, maior companhia elétrica da América Latina, e outras negociações em curso, como a da Sapesp, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, O capitalismo mundial e a captura do setor elétrico na periferia reflete a situação atual dos serviços públicos no Brasil, que caminha na contramão de países da Europa, como a França, prestes a nacionalizar completamente a empresa de energia, EDF.
FICHA TÉCNICA
Título: O capitalismo mundial e a captura do setor elétrico na periferia
Autor: Salatiel Pedrosa Soares Correia
Páginas: 280
Preço: R$ 62,00
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Sobre o autor: Salatiel Pedrosa Soares Correia é goiano, nascido na cidade de Piracanjuba. Mestre em Planejamento Energético pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), é formado em engenharia Elétrica e Administração de Empresas. Trabalhou na Celg (Companhia de Distribuição do Estado de Goiás), antiga estatal do estado, por mais de 30 anos.
Na área de humanas, é um grande admirador da literatura nacional e mundial. Já foi articulista em jornais importantes dos estados de Goiás, Tocantins e Minas Gerais. É autor de oito livros, cujos temas englobam política, energia, desenvolvimento regional e literatura.