Depois da pandemia causada pela Covid-19, o turismo sustentável tem sido visto como um caminho necessário no mundo. Mesmo que a importância de viagens mais responsáveis sob o ponto de vista socioambiental venha sendo discutida há décadas, foi só depois da pandemia que grandes empresas, governos, companhias aéreas, a imprensa e a sociedade, de modo mais geral, passaram a dar a devida atenção ao assunto.
Portugal, por exemplo, lançou, em outubro de 2020, o Plano Turismo + Sustentável 20-30, com mais de 70 propostas de projetos e ações, com o propósito de posicionar o país “como um dos destinos mais competitivos, seguros e sustentáveis do mundo através de um desenvolvimento econômico, social e ambiental em todo o território”. Em 2020, o país se tornou também membro do Conselho Global de Turismo Sustentável e teve 11 lugares na lista dos “100 destinos mais sustentáveis do mundo”, do Green Destinations, divulgada naquele mesmo ano.
Em dezembro de 2020, o Ministério do Comércio, Indústria e Turismo da Colômbia lançou a primeira Política de Turismo Sustentável: Unidos pela Natureza, que “reconhece a importância do turismo como parte da conservação da biodiversidade, paisagens, ecossistemas e recursos naturais da Colômbia”. Na mesma direção, a Suíça lançou a Swisstainable – Estratégia para o desenvolvimento sustentável da Suíça como destino de viagem, cuja intenção é colocar o país como o destino mais sustentável do mundo. O Conselho Federal Suíço também assumiu o compromisso de criar uma Suíça neutra em impactos para o clima até 2050. Países como Japão, Noruega e Costa Rica também estão entre os que já compreenderam a importância do turismo sustentável e como boas práticas desenvolvem o setor.
De acordo com a iStock – plataforma líder de comércio eletrônico que oferece imagens, vídeos e ilustrações, por meio de sua plataforma de pesquisa criativa, VisualGPS – o turismo de natureza é uma prioridade crescente para latino-americanos quando viajam. De cada dez pessoas, quatro (40%) disseram que o turismo sustentável é mais importante agora do que antes da pandemia.
Outra pesquisa, conduzida pela plataforma de hospedagem Booking, revelou no “Relatório de Viagens Sustentáveis”, edição 2022, que está crescendo o desejo por escolhas mais conscientes em toda a experiência de viagem. Realizada com mais de 30 mil viajantes de 32 países e territórios, incluindo o Brasil, o estudo mostrou que 90% dos entrevistados brasileiros pretendem viajar de forma ecologicamente correta nos próximos 12 meses. O levantamento também apontou que 86% dos brasileiros dizem que estão mais propensos a escolher uma acomodação sustentável e dois terços (65%) dos viajantes do país afirmam que os esforços feitos por acomodações e provedores de transporte em prol do meio ambiente têm um grande papel na hora de decidirem contratar esses serviços.
Daniel Cabrera, cofundador e diretor-executivo da Vivalá – Turismo Sustentável no Brasil, destaca que o governo brasileiro deve institucionalizar sua visão de turismo sustentável para o país. Com a maior biodiversidade do mundo, o Brasil deve proteger seus biomas, como a Amazônia, e precisa aproveitar sua aptidão para experiências em unidades de conservação. “O turismo sustentável conserva biomas, enaltece a cultura de comunidades locais, gera emprego e renda digna, e não precisa de um super investimento inicial em infraestrutura. Entretanto, é preciso investimento para fomentar iniciativas em parcerias público-privada, capacitar a força de trabalho e transformar a divulgação do país no exterior de ‘sol, samba e futebol’ para algo que contemple realmente a nossa gigante diversidade natural e cultural. Temos um poder para o turismo sustentável ainda totalmente subaproveitado”.
O impacto positivo do turismo sustentável pode ser sentido também na melhoria das condições de saúde e educação das populações tradicionais. “O turismo sustentável tem trazido muito aprendizado, conhecimento e ajuda financeira para facilitar a saída das pessoas para buscar conhecimento fora da aldeia e depois aplicá-los aqui. O turismo vem ajudando nas dificuldades que temos, inclusive contribuindo na faculdade das minhas duas filhas. Nunca na nossa história tínhamos tido essa oportunidade”, explica o Cacique Teka Shanenawa, da Aldeia Indígena Shanenawá, parceira da Expedição Amazônia Shanenawa da Vivalá.
A ONU (Organização Mundial das Nações Unidas) e a OMT (Organização Mundial do Turismo), inclusive, consideram o turismo sustentável como importante instrumento na busca pelo cumprimento dos 17 ODS, os Objetivos Sustentáveis do Milênio.
Negócio social pretende injetar R$ 30 milhões até o ano de 2032 em comunidades locais
No Brasil, a Vivalá surgiu com a missão de ressignificar as relações das pessoas com o Brasil através do Turismo Sustentável, empoderando comunidades e ajudando na conservação da maior biodiversidade do mundo. A empresa é especializada em expedições em unidades de conservação com profunda interação com a natureza e imersão nas comunidades tradicionais locais por meio do Turismo de Base Comunitária e do Volunturismo.
“Como negócio social que visa a geração de impacto socioambiental positivo, buscamos desenvolver vivências que fazem bem para quem viaja, para quem recebe e para o planeta. Assim, os viajantes têm a chance de ver de perto uma unidade de conservação no Brasil, entender sua riqueza e propagar a mensagem de proteção ambiental, ao mesmo tempo em que descobrem outras formas de viver em harmonia com o meio a partir dos saberes ancestrais dos povos tradicionais. Já nossos parceiros indígenas, ribeirinhos, quilombolas e sertanejos, nessa troca, aprendem, ensinam e se orgulham de sua cor, cultura, gastronomia e religiosidade, enquanto também encontram oportunidades de emprego e renda sustentáveis”, explica Cabrera.
Até 2032, a Vivalá planeja injetar mais de R$ 30 milhões em comunidades tradicionais locais através da compra de serviços de base comunitária e, nos próximos dois anos, vai acelerar sua expansão para unidades de conservação de todas as regiões do Brasil. Além disso, o negócio social visa alcançar 120 mil horas de voluntariado em seus programas de viagem de Volunturismo de saúde, educação, meio ambiente e bioeconomia.
Beleza cênica brasileira é a maior do mundo e pode ser ainda mais aproveitada
De acordo com o Índice de Competitividade Turística, documento elaborado pelo Fórum Econômico Mundial, o Brasil segue alternando a liderança do ranking dos países com recursos naturais de beleza cênica com o México. Os Estados Unidos estão em quinto lugar. Lá, os parques nacionais chegam a receber mais de 300 milhões de visitantes ao ano. “Só em 2019, o Serviço de Parques Nacionais Norte Americano registrou 328 milhões de visitantes, que gastaram cerca de US$ 21 bilhões nas regiões onde os parques estão inseridos, gerando 341 mil empregos”, destaca uma reportagem no portal Turismo Spot. Enquanto isso, o mercado de turismo sustentável em unidades de conservação do Brasil segundo o ICMBio em 2019 foi de R$ 1,1 bilhão, cerca de 97 vezes menor, mesmo tendo muito mais atrativos naturais do que os Estados Unidos.
Ainda segundo a matéria, o Canadá, que ocupa a décima primeira posição na lista dos países com mais territórios protegidos por unidades de conservação, viu os anos de 2016 e 2017 registrarem 24,9 milhões de visitantes, gerando mais de 40 mil empregos, US$ 2,5 bilhões em renda e contribuindo com mais de US$ 4 bilhões na economia canadense. A reportagem também menciona a Costa Rica, conhecida como um dos destinos pioneiros do ecoturismo no mundo. “Seu território, que corresponde a menos de 1% do brasileiro, possui 25% de sua área coberta por áreas naturais protegidas”, destaca a reportagem, que lembra que dados do Instituto Costarricense de Turismo apontam que a visitação em áreas naturais saltou de 500 mil em 1990 para 2,2 milhões em 2018.
“Se o potencial de geração de renda e receita que o ambiente natural bem protegido e conservado é capaz de gerar fosse, de fato, levado em consideração no Brasil, as oportunidades de ascensão de novos negócios cresceriam exponencialmente”, pontua Cabrera, da Vivalá, que realiza todas as suas atividades de turismo sustentável em Unidades de Conservação do Brasil, como parques e florestas nacionais, terras indígenas e áreas de preservação ambientais.