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O legado de Rita Lee: a trajetória da rainha do rock brasileiro

CONCERTO DE RITA LEE NO COLISEU DOS RECREIOS 01.07.2008 GONCALO VILLAVERDE

Rita Lee é uma das artistas mais importantes e influentes da música brasileira. Com uma carreira que abrangeu mais de cinco décadas, nos deixou aos 75 anos nesta segunda feira (8), mas deixa um legado duradouro no cenário musical do Brasil e além. Seu estilo único, suas letras irreverentes e seu talento inegável a tornaram uma das artistas mais populares e queridas do país.

Nascida em São Paulo em 1947, Rita Lee iniciou sua carreira musical no final da década de 1960 como vocalista da banda Os Mutantes. Com um som experimental e psicodélico, a banda se tornou um dos pilares da Tropicália, um movimento cultural brasileiro que combinava elementos de música, arte e política em uma mistura única e revolucionária. Com Os Mutantes, Rita Lee lançou vários álbuns clássicos e se tornou uma das vozes mais importantes da contracultura brasileira.

Após deixar Os Mutantes em 1972, Rita Lee iniciou uma carreira solo que duraria mais de três décadas. Seus primeiros álbuns solo, “Build Up” (1970) e “Hoje é o Primeiro Dia do Resto da Sua Vida” (1972), já mostravam sua habilidade de combinar diferentes estilos musicais e letras provocadoras. Ao longo dos anos 70 e 80, ela lançou uma série de álbuns de sucesso, incluindo “Fruto Proibido” (1975), “Babilônia” (1978) e “Rita Lee e Roberto de Carvalho” (1980), este último em parceria com seu marido e colaborador de longa data Roberto de Carvalho.

Ao longo de sua carreira, Rita Lee também se tornou conhecida por suas letras provocadoras e irreverentes, que abordavam temas como sexo, drogas, política e sociedade. Ela também foi uma das primeiras artistas brasileiras a falar abertamente sobre sua sexualidade e a lutar pelos direitos LGBTQIA+. Suas músicas muitas vezes eram vistas como uma forma de protesto contra a opressão e a censura do regime militar brasileiro, que governou o país de 1964 a 1985.

Para Naira Marcatto, especialista em Canção Popular, pesquisadora do campo da História da Música Popular Brasileira e professora de História da Música Brasileira na Faculdade Santa Marcelina, o título de ” Rainha do Rock” não é a toa. Ela inventou um jeito de se fazer canção que foi tão roqueiro quanto brasileiro.

Confira a entrevista completa para o In Fluxo Portal:

1. Quais são as principais influências musicais que moldaram o estilo musical de Rita Lee?

“Através da escuta treinada, conseguimos entender algumas influências de um determinado artista, mas nunca afirmar. Rita Lee ouviu o rock dos anos 50, ouviu samba canção, jazz, talvez bolero, ouviu Beatles, confessa e sonoramente. Mas, para além de tudo isso, o ato de compartilhar música, fazer música junto com alguém, também nos influência de forma irreversível. Então em Rita tem Roberto de Carvalho, Roberto Carlos, Erasmo, Gil, Caetano, Tom Zé, Nara, Gal, Arnaldo, Sérgio e tantos outros, assim como o som desses tantos também fagocitou a música de Rita Lee.”

2. Como o trabalho solo de Rita Lee difere de seu trabalho anterior como membro do grupo Os Mutantes?

“Os Mutantes eram mais experimentais e tinham uma sonoridade bastante referenciada por aquilo que queriam extrair da tecnologia disponível à época. De certa forma e em termos mercadológicos, um som mais nichado, em pleno diálogo com outros sons vindos de algumas vanguardas musicais e, ao mesmo tempo, com o som da garagem. Já o trabalho solo de Rita (ou a partir do Tutti Frutti), era mais cancional, mais cantável e, talvez por isso, com um caráter bastante atemporal.”

3. Qual foi o álbum mais bem-sucedido de Rita Lee e qual foi o impacto dele na cena musical brasileira?

“Não sei exatamente se o mais vendido, é possível que sim, mas “Lança-Perfume” (que na verdade se chama Rita Lee, mas ficou conhecido pelo nome da música) foi um marco na indústria. Foi lançado em 1980/81, quando o mercado fonográfico já estava em queda no Brasil e bateu recordes de venda no Brasil e no exterior. Ouvindo de hoje, parece uma compilação de “as melhores”. É nele que estão Baila Comigo, Caso Sério, Bem-Me-Quer, a própria Lança-perfume. E é justamente esse o impacto: esteticamente impecável, um dos grandes discos da nossa história e um aceno de respiro ao mercado fonográfico brasileiro.”

4. Como Rita Lee se tornou uma das figuras mais icônicas da música brasileira e qual é o seu legado na indústria da música?

“Fazendo música sem reinventar a roda. Porque a simplicidade é muito complexa de ser alcançada com êxito. E Rita Lee parece que veio para o mundo assim. Ela inventou o jeito brasileiro de fazer rock e vem daí sua majestade. Até quando não era rock o gênero da música. É possível dizer que todo mundo que entrou para essa indústria depois dela e aprendeu com ela. Porque música tem essa habilidade, né? A partir do momento em que um som é ouvido, ele passa a habitar a sua escuta. O fazer musical vem dessa escuta. E assim se constrói uma cultura sonora. Rita foi tão imensa que é parte relevante da nossa cultura.”

5. Quais são as canções mais emblemáticas de Rita Lee e o que elas revelam sobre a sua arte e estilo musical?

“De uma obra desse tamanho e importância, fica difícil elencar algumas canções, só. Então fico com aquelas que falam sobre existir como mulher em grupo, sobre essa contribuição social impressionante que foi cantar a sororidade: Todas as mulheres do mundo, agora só falta você, Pagu, Luz Del Fuego, Elvira Pagã, Doce de Pimenta e por aí vai.”

6. Como Rita Lee incorporou a cultura brasileira em sua música e como isso a diferenciou de outros artistas nacionais?

“Rita Lee surge na indústria musical, de fato, na noite de estreia do Tropicalismo e como parte desse movimento. E o Tropicalismo, até certo ponto, também foi essa incorporação de muitos brasis pela música do mainstream. Esse modo de fazer tropicalista foi incorporado, por sua vez, ao processo de criação musical desse mainstream como um todo. Então, quando ouvimos Rita Lee, temos ela na íntegra: brasileira, paulistana, corintiana, filha de americano, propagadora de liberdade, inventora do rock.”

7. Qual foi o impacto de Rita Lee na cultura pop brasileira como um todo, além de sua influência na música?

“Rita Lee não é chamada de “Rainha do Rock” à toa. Ela inventou um jeito de se fazer canção que foi tão roqueiro quanto brasileiro. E pela proximidade com os nossos hábitos de escuta, foi legitimado e incorporado como cultura. Rita Lee é presente e pedaço nosso. Vive na escuta da gente, de uma forma ou de outra. Essa vida, esse legado, construíram nossa cultura como hoje a conhecemos.”

8. Como a música de Rita Lee evoluiu ao longo dos anos e o que isso revela sobre a sua jornada artística?

“Não sei se música evolui. Ou involui. Porque parte de um processo de criação que, muito embora seja um meio de se fazer, também é totalmente ligado ao momento em que é realizado. Inventora de tanto por 50 anos, Rita nunca perdeu a mão. Talvez seja essa “mão para canção” o fio condutor dessa história.”

9. Qual é a sua música favorita de Rita Lee e por quê?

“Desde que soube da notícia tenho “Bwana, Bwana” na cabeça. Talvez porque foi essa a primeira música dela que aprendi a tocar no piano, talvez porque já cantei muito essa música. Mas não sei se a preferida. Deve ter umas 30 músicas empatadas em primeiro lugar aí. Mas isso é Rita, né?”

O legado de Rita Lee é enorme e multifacetado. Ela deixou uma marca indelével na música brasileira e inspirou uma geração de artistas que vieram depois dela. Sua música é um exemplo de como a arte pode ser usada como uma forma de protesto e de expressão pessoal. Suas letras e ideias continuam a ressoar com as pessoas hoje, e seu impacto na cultura brasileira nunca será esquecido. Rita Lee é uma verdadeira lenda da música, e seu legado viverá para sempre.

By João Pedro Silva

É Jornalista, especialista em mídia esportiva desde 2018 é CEO/Fundador do Portal Esporte News. Foi jornalista da TV União, Radialista da Rádio Fortaleza FM e Rádio Dom Bosco FM. No INFluxo Portal é colunista e trata sobre cobertura de eventos, entretenimento e muito mais! Insta: @joaopedrosilvareal

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