Cantora e compositora brasileira, Kell Smith busca e canta as verdades que escreve sobre nós. Há cinco anos, desde o lançamento do primeiro EP, que leva seu nome, a artista segue na lapidação da verdadeira arte com propósito e avalia a bagagem adquirida como artista até aqui, além de números bastante eloquentes: 813 mil seguidores no Instagram, 277 mil inscritos em seu canal no YouTube e mais de 1 milhão de ouvintes mensais no Spotify.
A “Miss Spoiler” – que não consegue segurar uma novidade – lançou no último dia 8 “do mês que eu já me apropriei, o setembro amarelo”, Música para recomeços, canção que de certa forma resume muitas questões da artista. Nela afirma que é preciso aceitar que a vida é um eterno recomeço, que a gente muda de opinião – e que isso é bom! –, não tem controle sobre todas as coisas, nem sobre o futuro. Em versos como “É mãe, eu não sou mesmo todo mundo/porque parece que tá todo mundo bem (Todo mundo bem)/Aqui um dia tem 20 minutos/eu corro atrás do tempo e ele foge de mim”, percebe-se muito o pensamento que permeia sua obra. Contando que o processo de composição mudou um pouco neste novo lançamento, a compositora percebe que olhou mais pra dentro de si, em contraponto com suas composições anteriores, onde ela trazia de fora o sentimento coletivo para misturar aos seus próprios e à sua vida. Música para recomeços será parte de um EP, que está sendo preparado “com muita segurança”, mas “insistiu em nascer antes”, pela força de sua temática. Para Kell, “estar seguro, mais do que morar em um local protegido, é morar em pessoas que te dão segurança e amor” e completa dizendo que a terapia a ajuda muito no processo de criação.
“Foram cinco anos muitos intensos. Intensidade é a palavra que mais define o processo. É sobre o caminho e não sobre a linha de chegada. Ter tido tantas oportunidades, ter aprendido muitas coisas, a troca com outros artistas, conhecer cada vez mais a música de nosso país, a nossa arte, poder me apropriar do espaço dentro dela. E me conhecer como artista, porque vocês me conheceram enquanto eu também me conhecia”, conta.
Música para recomeços e outros hits de Kell Smith podem ser vistos/ouvidos ao vivo em seus próximos shows no Festival das Esmeraldas, em Barreiras e no Festival da Primavera, na Bahia, no SESC Guarulhos, no Teatro Arthur Azevedo e no Blue Note, em São Paulo, em setembro e outubro.
Sobre a artista
Tudo começou quando Smith, nascida em uma família humilde, ganhou de seu pai, como presente de aniversário, o disco Falso Brilhante (1976), quando tinha apenas 12 anos. O álbum “mudou sua existência” — e a acompanha até hoje. “A Elis não só me impactou, ela me atravessou. Naquele momento em que eu escutei esse LP, eu a conheci, mas eu também tive contato com o mais profundo da minha alma,” conta Smith, cujo sonho era assistir um show da cantora, conhecer sua “ídola” e “primeiro amor” de perto. Infelizmente, quando teve coragem de pedir, descobriu uma das notícias mais tristes de sua vida: Elis não estava mais aqui. Mas sua música permaneceria por gerações e gerações. Kell ainda tem o LP e a vitrola, que o pai achou na rua e consertou. Mas ainda não apresentou Elis à sua filha.
Conhecida por seus hits, que alcançaram cifras estrondosas no Spotify, para ficar apenas em uma plataforma, estão a canção que viralizou nas redes Era uma vez (mais de 88 milhões de audições), Respeita as mina (mais de 7 milhões), Nossa conversa (se aproximando de 55 milhões) Mudei (12,5 milhões) e Girassol (mais de 13 milhões) tem ainda um dos trabalhos mais intensos e úteis da pandemia, o álbum O velho e bom novo, que trata de assuntos essenciais como saúde mental, esperança, empoderamento feminino e amor – temas recorrentes em suas composições.
“Eu faço música real, para pessoas reais”, afirma Kell, que compreende a importância e carrega em si e em seu trabalho as diversa Kells que existem dentro dela, de 13, 18, 25 anos. Sem romantizar, mas aceitando seu percurso, aprendendo com os desafios e, finalmente, dividir isso com as pessoas.
Ter nascido no meio gospel – seus pais são missionários evangélicos –, também contribuiu para sua formação como mulher e artista. Kell Smith afirma que “seu grande barato” sempre foi Jesus. “Eu às vezes penso o que Jesus, este cara disruptivo e ousado, periférico, esquisito, que alimentava e convivia com todo tipo de gente, faria no meu lugar”. E finaliza dizendo que conversa com ele, desmitificando o Senhor: ”tenho grande intimidade com Jesus”.
“Eu sou grata porque eu faria a minha arte de graça, cantando em qualquer lugar, na igreja, nas ruas. Hoje eu sou grata porque eu sou remunerada para fazer isso. Os meus fãs mudaram minha vida, se conectam com minha arte e eu mudei também a vida da minha família”, finaliza.