Na semana em que a escritora Carolina Maria de Jesus faria 110 anos de vida – dia 14 de março -, Fortaleza recebe os últimos dias da peça “Eu amarelo”, em homenagem a esta que é considerada uma das mais relevantes autoras negras brasileiras do século XX. As últimas apresentações acontecem sexta, sábado e domingo, dias 15, 16 e 17 de março, na CAIXA Cultural Fortaleza. Os ingressos podem ser adquiridos na bilheteria do equipamento.
O espetáculo é protagonizado pela atriz Cyda Moreno e apresenta três momentos cruciais na vida da escritora: sua vida na favela, que resultou em diários; a ascensão literária, que a tornou um fenômeno editorial de vendas e, por último, o seu esquecimento total. O livro “Quarto de Despejo” serviu de base para a adaptação teatral e evidencia as inquietudes sociais e as experiências emocionais de quem vive na falta, além de apontar a trajetória ímpar da escritora, que deixou mais de 4.500 páginas em seus manuscritos.
Com dramaturgia de Elissandro de Aquino, o texto apresenta fragmentos do legado de Carolina Maria de Jesus por meio de outras obras, como “Diário de Bitita” e “Casa de Alvenaria”, além de pesquisa biográfica e provérbios. Fenômeno literário nos anos de 1960, Carolina Maria de Jesus só foi redescoberta na década de 1990. No exterior, porém, ela nunca deixou de ser lida e estudada, sobretudo nos Estados Unidos, onde “Quarto de Despejo”, traduzido como “Child of the Dark”, é utilizado nas escolas.
“Sua escrita nos instiga por sua atualidade. Seu projeto literário, iniciado na década de 1950, ainda é, infelizmente, uma realidade quando constatamos dados de pessoas que vivem em vulnerabilidade social. Sinto que hoje ela tem se tornado uma lenda, uma heroína e tem refletido muitos movimentos e coletivos pelo Brasil. Ou seja, Carolina é plural. Não à toa ela mesma profetiza que “ninguém vai apagar as palavras que eu escrevi”. Quando reflito essa passagem, percebo a força e a potência de sua escrita frente ao silêncio do tempo. Ela sabia que o venceria. E cá estamos nós!”, afirma Elissandro de Aquino.
O dramaturgo diz ainda que Carolina permanece na história como um exemplo de persistência na busca pela realização dos sonhos e conquistas, mesmo diante das piores adversidades.
“Não posso deixar de dizer que Carolina até hoje exerce sobre mim um misto de fascínio e mistério. Ela me ensina que os sonhos valem a pena. Que nós, apenas nós, somos responsáveis pela nossa própria validação, e que é preciso audácia, além de coragem para se apropriar da nossa própria caminhada. Salve Carolina!”, finaliza.
Carolina Maria de Jesus
A escritora mineira Carolina Maria de Jesus foi uma das primeiras do país a tematizar o cotidiano da favela, território marginalizado e onde ainda era incomum a autonomia da palavra. Nascida em 14 de março de 1914, a autora de “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”, uma das primeiras publicações de uma negra no Brasil, teve obras lançadas também em 46 países e traduzidas para 16 idiomas.
Durante sua vida, Carolina foi negligenciada ou meramente rotulada como a escritora favelada de diários, quando na realidade foi uma multiartista. Passou pela música como cantora e compositora, pelas artes circenses e até mesmo pela moda, com experimentações na costura. Na literatura, escreveu romance, poesia, teatro, provérbios, autobiografia e contos. Sua obra mais famosa, a citada “Quarto de Despejo”, foi traduzida em 13 línguas e adaptada para o teatro e a televisão. Em 2021, a autora foi homenageada com o título de Doutora Honoris Causa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), para celebrar e reconhecer sua importância na literatura.
O espetáculo integra a temporada 2023/2024 do Programa de Ocupação dos Espaços da CAIXA Cultural, uma iniciativa da CAIXA para promover o intercâmbio da produção de cultura em seus espaços. O projeto conta com patrocínio da CAIXA e do Governo Federal.
Serviço: [Espetáculo] Eu amarelo: Carolina Maria de Jesus
Local: CAIXA Cultural Fortaleza – Av. Pessoa Anta, 287, Praia de Iracema
Últimas apresentações: 15, 16 e 17 de março de 2024 (de sexta a domingo)
Horários: sexta e sábado, às 20h; domingo às 19h
Ingressos: R$ 15 (meia entrada para clientes CAIXA e casos previstos em lei) e R$ 30 (inteira) | Vendas na bilheteria da CAIXA Cultural.
Funcionamento da bilheteria: de terça a sábado, das 10h às 20h, e domingos e feriados, das 10h às 19h
Classificação indicativa: livre