Nesta sexta-feira, 30 de junho, acontece a inauguração do Ecomuseu Barra de Moitas, em Amontada(CE). O espaço nasce com a proposta de contar e valorizar a história da comunidade. A cerimônia está marcada para às 16h, e contará com apresentação do Reisado do M. Afonso.
Com mais de 30 peças, o acervo em exposição é dividido em três núcleos: Rio, Mar e Terra. Cada um deles trata de aspectos importantes da história e da cultura de Barra das Moitas, que ajudam os visitantes a entender a formação da comunidade. São objetos que retratam o cotidiano dos moradores da comunidade, como o trabalho com a agricultura, a pesca e renda, dentre outros.
No local, os visitantes vão poder conferir, por exemplo, objetos como rede de pescas, rendas, utensílios feitos pela população de forma artesanal e até um arado, usado na lavoura pelos primeiros moradores, bem como a proa e popa de um barco. O museu também traz fotografias e outros itens que revelam a riqueza cultural de Barra de Moitas, com destaque para a religiosidade e festividades, e a trajetória de líderes que ajudaram a construir a história da região.
Já o processo de concepção, expografia e montagem do equipamento cultural contou com a participação do historiador e técnico de Conservação e Restauro, Roberto Moreira Chaves, da produtora cultural, Paula Machado, com experiência em museus e atualmente coordenadora dos acervos do Minimuseu Firmeza, de lideranças e moradores que foram ouvidos e envolvidos na criação do espaço cultural.
Um passado presente. “Os primeiros que chegaram aqui foram os Gonzaga (Piranhas), Ribeiro dos Santos (Gamas) e os Pereiras (Grilos), lá pelos anos 30 e 40. Naquele tempo a vida era difícil, mas hoje lembrando, era também cheia de alegria, tudo unido para conseguir sobreviver”, lembra Liduina Ribeiro dos Santos, presidente da Associação dos Moradores de Barra de Moitas, que atuou de forma essencial na realização do projeto.
Faz muito tempo que a gente tenta instalar um museu aqui, acho que tem mais de dez anos que essa ideia surgiu na comunidade. Eu não tinha desistido, ainda, da criação, pois seria uma forma de guardar a nossa história, que hoje se tornou realidade, comenta o artesão José Renaldo Pereira de Azevedo.
“Essa é uma história que precisa ser lembrada, festejada e servir de alerta para que a terra continue com seus verdadeiros donos, os que aqui, integrados à natureza, viveram seus sofrimentos, construíram seus sonhos e traçaram suas vidas na dura labuta do dia a dia. O Ecomuseu Barra de Moitas conta essa trajetória, daqueles tempos passados, em memória guardados, sendo também resultado do presente, de encontros e reflexões e da busca por objetos que melhor os representassem, registra o historiador Roberto Moreira Chaves.
É um lugar de pensar o futuro, de novos aprendizados, da sempre presente comunhão nessa terra que lhes pertenceram, pertence e pertencerá. Aqui é o do ontem, do hoje e do amanhã”, acrescenta Paula Machado.
“A ideia de se criar um museu surgiu quando a gente começou a trabalhar em um projeto social ligado a uma empresa de energia eólica, em 2014. De lá para cá, foram muitos editais e tentativas de captar recursos. Até que finalmente conseguimos aprovar no Mecenas, junto à Enel, uma verba destinada à parte formativa do Museu e, com o esforço da comunidade, deixar o espaço pronto para receber o acervo, ainda que muito precário”, diz a produtora cultural Beth Araújo.
Para Maria Amélia Mamede, da empresa Via de Comunicação, que está prestando consultoria ao projeto, os museus ainda são pouco difundidos em nosso Estado. “Os gestores culturais devem ter um olhar mais carinhoso para a questão patrimonial, especialmente para os museus que focam na história e modos de viver, nos saberes de ribeirinhos, quilombolas, indígenas, uma vez que esses espaços podem desempenhar um papel educativo significativo para o fortalecimento das identidades e empoderamento dos moradores, em contraponto a um modelo de turismo que vem descaracterizando e aculturando a riqueza de nossa diversidade. É possível a convivência pacífica e respeitosa”, diz.
O Ecomuseu Barra de Moitas é uma realização da Associação dos Moradores do Distrito de Moitas – Amontada. Agradecimento: Enel, por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura (Lei N° 18.012 de 1° de abril de 2022). Apoio Institucional: Governo do Estado do Ceará, através da Secretaria da Cultura (Secult-CE).
Sobre a comunidade
Barras de Moitas é um povoado localizado no distrito de Moitas, em Amontada, no Litoral Oeste cearense. Lá, vivem pescadores, marisqueiras, agricultores e ribeirinhos. O território tem sido alvo constante da especulação imobiliária nas terras caiçaras. Áreas antes de uso comum, passam por um processo de privatização sem o consentimento da comunidade tradicional, que apesar dos desafios resiste contra o uso indevido das riquezas naturais que fazem parte da subsistência, segurança alimentar e financeira desse território.
A comunidade possui uma história de luta em defesa da preservação de seu território, seus costumes, sua cultura e seus valores. Essa batalha é travada desde quando os portugueses chegaram ao Brasil. Nos anos de 1990, houve uma tentativa de expulsar os moradores de suas casas, quando outros alegaram que aquelas terras não lhes pertenciam. No entanto, em meio a batalhas jurídicas e até físicas, ficou comprovado que aquele local, de fato, pertencia aos antigos moradores, aqueles que ajudaram a erguer Barra de Moitas.
SERVIÇO
Inauguração do Ecomuseu Barra de Moitas
Dia: 30 de junho (sexta-feira)
Horário: 16h
Endereço:Rua da Barra de Moitas, s/n – Moitas – Amontada, Ceará.
SAIBA MAIS SOBRE O ACERVO DO ECOMUSEU BARRA DE MOITAS: