Mais da metade da população brasileira (56%) se declaram negros ou pardos, significa dizer que são quase 120 milhões de brasileiros. Juntos, a população negra consome cerca de R$ 1,9 trilhão, o que representa 40% do total do consumo brasileiro. Os dados fazem parte do último estudo ‘Faces do Racismo’, realizado pelo Instituto Locomotiva para a Central Única de Favelas em 2020. Apesar desses números expressivos, os negros ainda estão na base da pirâmide quando se fala em estrato social.
De acordo com o levantamento, brasileiros negros pertencem em sua maioria às classes mais pobres e vulneráveis. Só 19% dos negros pertencem à classe AB; 52% à classe C; e 29% à classe DE. Considerando ao que se declararam não negros, a proporção é bem diferente: 42% estão na classe AB; 45%, na C; e 13%, na DE.
É para debater este cenário em que a população negra está inserida e a sua luta que acontece a II Expo Internacional da Consciência Negra, que ocorre entre os dias 18 e 20 de novembro, em parceria da Secretaria Municipal Relações Internacionais (SMRI) com as demais secretarias municipais, e visa estimular o debate sobre o racismo estrutural, engajando a população em seu combate.
A montagem desta edição, que está a cargo da São Paulo Turismo, propõe discutir as lutas do movimento negro no Brasil pela abolição da escravatura, as raízes do racismo estrutural, e difundir a cultura negra, reafirmando a capital paulista como indutora do debate e das ações para a promoção da igualdade racial no país e na América Latina.
“A política pública ‘São Paulo, Farol de Combate ao Racismo Estrutural’ nasce com a intenção de transformar o ensino nas escolas municipais. Temos uma parceria da SMRI com a Secretaria de Educação (SME) e a Unesco, que pesquisa o ambiente escolar, para entendermos como as crianças são impactadas na educação pelo racismo estrutural. A partir disso, estaremos apresentando uma formação aos professores visando que tenham uma atuação antirracista. A primeira e a segunda Expo Internacional Dia da Consciência Negra são a parte visível da educação transformadora que estamos propondo. Nelas contamos a história que foi apagada. Na primeira edição falamos do passado, do presente e do futuro da população negra em nosso país. Neste ano, abordaremos o protagonismo da população negra na abolição da escravatura”, explica a secretária municipal de Relações Internacionais, Marta Suplicy, idealizadora da política pública.
Elaine Gomes de Lima, organizadora da Expo, por meio da SMRI, reitera: “O meu desejo é que as pessoas se sintam motivadas a agir contra o preconceito estrutural. É a nossa história! Foi o que nós produzimos, pois somos protagonistas desta luta diária. Ser negro no Brasil é algo extremamente particular, cada um tem suas vivências e percepções. O autoconhecimento da negritude tem implicações sem volta no intelecto de uma pessoa negra e a militância requer força e coragem de se reestruturar diariamente.”
Palestras
Tom Farias, curador desta edição, considera a II Expo Internacional da Consciência Negra um passo importante a ser dado para o combate orgânico do racismo na cidade de São Paulo, o que, pela sua estratégica posição social e econômica no contexto nacional, serve de exemplo a ser seguido para todo o Brasil. Além do mais, de acordo com o curador, “a II Expo provoca uma reflexão substancialmente forte para os dias tumultuados em que vivemos: exige um posicionamento de todos em prol do fim do racismo, sobretudo, na estrutura do mundo corporativo, cultural e educacional”.
Farias salienta ainda que o Dia da Consciência Negra, criado na cidade de São Paulo há 18 anos, pela lei municipal 13.707, de 7/1/2004, sancionada pela então prefeita Marta Suplicy, a partir de projeto dos vereadores Claudete Alves e Ítalo Cardoso, impulsionou a criação da data em mais municípios do estado. Hoje, mais de mil cidades brasileiras, além de estados como Alagoas, Amazonas, Amapá, Mato Grosso e Rio de Janeiro celebram o Dia da Consciência Negra. Também a data é lembrada pela Lei Federal n° 12.519/2011.
II EXPO
A partir de três eixos: Cultura, Educação e Justiça, a segunda edição da Expo propõe um amplo diálogo com o visitante, sendo que terá transmissão ao vivo.
Autoridades na temática, tanto do Brasil quanto de outros países, realizarão debates sobre diversos âmbitos do racismo estrutural.
A Expo contará com espetáculos musicais e apresentações durante seus quatro dias. Terá 74 estandes comerciais e 26 estandes institucionais, área expositiva, espaço infantil, denominado “Erê” e alas de “Cultura”, “Educação” e “Comunidade”, além de uma ampla área de alimentação.
O Espaço Cultura celebrará a identidade negra, expondo seus signos, atos icônicos, religiões, gastronomia e expressões artísticas. Seu objetivo é reconhecer e inspirar novas ideias e possibilidades igualitárias.
O Espaço Educação apresentará as produções, invenções e descobertas do povo negro e suas contribuições para a sociedade. Haverá também contação de histórias africanas e afro-diaspóricas para crianças, rodas de conversas e Jogos típicos africanos. O Objetivo é mostrar que é possível educar de forma inclusiva e antirracista.
Já o Espaço Comunidade trará reflexões sobre moda, saúde, música, entre outros temas, e pretende enaltecer a comunidade preta, falar sobre o protagonismo negro e conscientizar seus visitantes sobre igualdade racial, respeito e justiça.
Destinado às crianças, o Espaço Erê vai promover uma programação especial para os jovens, com educação lúdica, espaço tátil e diverso, contações de histórias africanas, apresentação circense, entre outras atividades.
Todos os espaços contam com cenografia personalizada, inspirada nas matrizes sociais e culturais africanas e afro-brasileiras.
A Expo contará ainda com um mezanino de debates em que serão apresentados 11 painéis, entre os dias 18 e 20 de novembro. Personalidades e autoridades nacionais e internacionais irão discutir temáticas negras, diversidade, igualdade racial, sociedade, cultura e economia.
Para Tom Farias, curador da Expo, os painéis discutirão temas cruciais sobre o processo de constituição do racismo no estado brasileiro, o papel da abolição da escravatura para a população negra com reflexões sobre que rumo tomar a partir de suas causas e efeitos.
Programação
PALCO PRINCIPAL: ATRAÇÕES
18/11
13:30 – 14:30 Samba da Vela convida Anderson Tobias (Show)
19:00 – 20:00 Ao Cubo (Show)
21:00 – 22:00 Majur (Show)
Dia 19/11
13:30 – 14:30 Samba de Dandara (Show)
19:00 – 20:30 Black Mad e DJ Easy Nylon (Baile Nostalgia)
20:30 – 22:00 Fundo de Quintal (Show)
Dia 20/11
10:30 – 11:40 Dexter, Marcivan, Canuto (Painel de debate sobre População Carcerária)
15:00 – 16:00 Luciana Mello e Walmir Borges (Show)
17:00 – 18:00 Luedji Luna e Rincon Sapiência (Show)
19:00 – 20:00 Péricles (Show)
Painéis
18/11
Painel 1 – “SENTIDO DE LIBERDADE: INDEPENDÊNCIA, ABOLIÇÃO, QUILOMBISMO” Horário: das 10h30 às 11h30
Painel 2 – “PRODUÇÃO LITERÁRIA SOB CONTEXTO DA PÓS-ABOLIÇÃO”
Horário: das 13h00 às 14h00
Painel 3 – “BIOGRAFIAS NEGRAS: OS RETRATOS DO BRASIL”
Horário: das 14h20 às 15h20
Painel 4 – “MODERNISMOS E MODERNIDADES: OS LIMA BARRETO DE HOJE”
Horário: das 15h40 às 16h40
Painel 5 – “RACISMO NO ESPORTE: FUTEBOL E AFINS”
Horário: das 17h às 18h
19/11
Painel 1 – “PROCESSOS DE APAGAMENTOS: PRÁTICAS DO RACISMO DENTRO E FORA DO AMBIENTE CORPORATIVO”
Horário: das 10h30 às 11h30
Painel 2 – “SOBRE O AMOR: O QUE OS MITOS E A FILOSOFIA AFRICANA TÊM A NOS DIZER”
Horário: das 13h às 14h
Painel 3 – “HERDEIROS DE CANDACES: HISTÓRIAS, HERANÇAS E LITERATURAS”
Horário: das 14h20 às 15h20
Painel 4 – “A FILOSOFIA PELA ANCESTRALIDADE: HISTÓRIAS, LEGADOS”
Horário: das 15h40 às 16h40
Painel 5 – “SOBRE RACISMO E DESIGUALDADE ANTE OS MEDIDORES SOCIAIS”
Horário: das 17h às 18h
20/11
Painel Especial
“POPULAÇÃO CARCERÁRIA”
Horário: das 10h30 às 11h30
Serviço:
18 a 20 de novembro
Local: Expo Center Norte – Rua José Bernardo Pinto, 333 – Vila Guilherme, São Paulo-SP
Entrada gratuita