Qual adulto diante de um enigma tecnológico não recorreu ao jovem mais próximo? Afinal, “eles já nasceram com o celular”!. Depois de 2010, os sucessores da geração Z e dos Millennials nasceram hiperconectados. Reza a lenda que os Alphas serão mais seletivos no consumo das redes sociais, escolhendo melhor o que será exibido em suas telas. No entanto, as telas seguirão como um espelho mágico – o Big Brother particular. Esta geração tem sobre si um grande olho que comporta muitos olhares. São vários reflexos e modelos para seguir – então qual escolher? E como isso impactará na individualidade desses jovens?
A contemporaneidade é baseada em excessos. Hoje tudo é demais. A compulsão pelo concretizado, sem considerar o processo necessário, é uma face do imediatismo dessa abundância. A resposta da performance tem que ser rápida, sem reflexão.
Ao mesmo tempo em que os Alphas conseguem “surfar” tranquilamente nas mudanças e novidades tecnológicas, essa quantidade de possibilidades dificulta o foco e a concentração. É um pouco de tudo e muito de nada.
Inclusive a curadoria aprimorada dessa geração serve para quê? Entender melhor o que deve ser copiado? Escolhido passivamente? Os avatares, filtros e outras ferramentas utilizadas pelas gerações anteriores, podem até ter a cara limpa dos Alphas como substituto, mas a falta de “cara” poderá ser a maior substituição. Afinal, em uma sociedade que preza o êxito independente dos meios, ser o que se espera é menos arriscado.
O receio do erro, a irritabilidade, a ansiedade e a hipocondria são alguns dos sintomas do hiperconectado. Muitos Alphas foram colocados diante de uma tela ainda bebês. Alguns viram a natureza somente por um tablet. Outros só se relacionam no digital. Só que um dos fatores fundamentais para a construção do sujeito é sua interação (presencial) com o próximo. Este será o grande desafio da nova geração.
Jacqueline Vargas é psicanalista com abordagem para a adolescência e pós-graduada em Filosofia, Psicanálise e Cultura. Também é autora do livro juvenil “A arte de cancelar a si mesmo” e roteirista vencedora do Emmy Awards com “Malhação – Viva a Diferença”