O Grupo Quatroloscinco – Teatro do Comum (BH/MG) estreia em São Paulo, no Sesc Vila Mariana, Tragédia, a sétima peça do seu repertório, que conta com direção de Ricardo Alves Jr. e dramaturgia de Assis Benevenuto e Marcos Coletta. As apresentações são as primeiras na cidade depois de um hiato de dois anos causado pela pandemia e fazem parte das comemorações de 15 anos do grupo. A temporada, curtíssima, é de 29 de setembro a 9 de outubro de 2022. No dia 27 de setembro, o grupo participa, ao lado do ator e diretor Marcos Felipe, da Cia. Mungunzá, da live “Grupo Quatroloscinco 15 anos: atuação, encenação e dramaturgia na criação coletiva”. A atividade é aberta ao público e será transmitida pelo canal do YouTube do Sesc Vila Mariana.
A peça propõe uma abordagem contemporânea da tragédia grega, a partir da releitura da peça Antígona, de Sófocles. Em cena, em volta de uma mesa de sinuca, quatro atores jogam com a realidade e a ficção para tocar em temas filosóficos e políticos atuais: os jogos de poder, a parcialidade da justiça, a naturalização da violência e o apagamento da memória. Também abordam em suas falas o ser humano e a sina eterna e trágica que é viver no mundo, neste país, em qualquer época da história, percorrendo o mesmo caminho – desconhecido, doloroso e errante.
Segundo o diretor, a encenação se lança ao desafio de construir por meio do fluxo entre linguagens – o cinema e o teatro, neste caso – a tragédia antiga e “eterna” do indivíduo insubmisso, comprometido e ético, em conflito com um poder tirânico que insiste em tentar apagar os seus crimes, impondo a mentira e o esquecimento como norma. “Neste novo trabalho, lançamo-nos ao desafio de olhar para a tragédia grega por meio de uma perspectiva que busca ressignificar o mito sob a experiência da angústia dos nossos dias.”
Esta é a primeira vez que o grupo é dirigido por um artista convidado. No palco, Ricardo Alves Jr. se dedica à pesquisa de linguagem que coloca o teatro e o cinema em sobreposição de planos e experimentalismo. Em Tragédia, as projeções em tempo real e o desafio dos atores de performar em registros distintos resultaram, nas palavras do diretor, em “uma dimensão simbólica do que é trágico”.
Uma vez eu conheci um rapaz muito jovem… Um rapaz que tentou fugirdo seu destino e acabou mal, muito mal. Ele matou o próprio pai, se casou com a própria mãe, teve até filhos com ela. Tudo isso sem saber. Tudo porque foi contra a vontade dos deuses e a gente sabe que eles são muito caprichosos pra aceitarem isso. Eu conheci esse rapaz. Ele se chamava…. Édipo. Édipo…
Isso foi há muito tempo. E ele se tornou um homem muito poderoso. Muito respeitado. Governante de uma grande cidade. Mas muitos males começaram a destruir a sua cidade e seus habitantes: pragas, mortes, doenças, catástrofes de todos os tipos, e então ele veio até a mim para que eu lhe revelasse o porquê de tudo aquilo.
Trecho de Tragédia
Uma das fundadoras do Quatroloscinco, Rejane Faria participa das duas primeiras apresentações e mostra sua versão atualizada da figura de Antígona. Ela, que também tem se destacado pelo seu trabalho no audiovisual brasileiro em elogiadas atuações, foi indicada como melhor atriz no Festival de Gramado 2022 por Marte Um, de Gabriel Martins – o filme acaba de ser escolhido pela Academia Brasileira de Cinema como o representante do Brasil na corrida pelo Oscar 2023.
Rejane Faria em cena de Tragédia Foto Luiza Palhares
SERVIÇO
TRAGÉDIA
GRUPO QUATROLOSCINCO (BH/MG)
Teatro Antunes Filho – SESC Vila Mariana
29 de setembro a 09 de outubro de 2022
Quinta a sábado, às 21h. Domingo, às 18h.
*Não haverá sessão no dia 02 de outubro.