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“Homem é a definição de ser humano e mulher é a definição de fêmea – quando ela se comporta como ser humano, ela diz que imita o homem”

Simone de Beauvoir

A escolha do dia 8 de março como foco desta análise necessita de contextualização tanto com relação à origem, quanto à relevância da data para os direitos femininos. Há várias informações e mitos com relação à origem desta celebração. No entanto, usar-se-á a mais difundida, a qual afirma que, em 1975, a Organização das Nações Unidas oficializou o dia 8 de março como o Dia Internacional das Mulheres, em busca de homenagear as vítimas de um incêndio em uma fábrica de tecidos em Nova Iorque.

Tal incêndio teria sido causado pelo proprietário, diante da declaração de greve das operárias, vez que estas reivindicavam condições dignas de trabalho, bem como aumento salarial. Várias mulheres teriam morrido carbonizadas porque as portas de saída estariam trancadas . Desse modo, o dia 8 de março passou a ser uma espécie de vitrine, de palanque e de oportunidades para a mulher, pois é um dia todo voltado aos assuntos pertinentes ao feminino.

Sabe-se que tal data modifica a vida das pessoas, altera o trânsito, o comércio, a economia e, principalmente, os meios de comunicação. Entretanto, a pesquisa promovida pela jornalista Sandra Nodari, em 2020, analisou: de quem são as vozes mais visibilizadas pelo telejornalismo? Ao assistir às emissoras de televisão generalistas fica fácil responder: são homens e brancos. Embora esta possa parecer uma resposta baseada no senso comum, tal fato foi observado em pesquisa que constatou que mulheres falam 8% (oito por cento) do tempo do telejornal, enquanto homens falam 14% (catorze por cento).

Além disso, 74,5% (setenta e quatro virgula cinco por cento) das vozes das fontes femininas no Jornal Nacional são de mulheres brancas. Porém, percebe-se um aumento no tempo dedicado à fala de fontes femininas no decorrer dos anos. Tais fatos podem ser ilustrados claramente pelos episódios de racismo enfrentados pelas comunicadoras televisivas Glória Maria e Maju Coutinho, apesar de ambas terem acessado o topo, encontraram preconceitos oriundos do gênero acentuados pela raça. Infelizmente, ainda há quem não reconheça este enfrentamento, pois “no racismo, a negação é usada para manter e legitimar estruturas violentas de exclusão racial”

Em reflexão ao estudo como um todo, visualiza-se que a fala feminina ainda vem repleta de estigmas e de desafios, os quais são considerados injustiças epistêmicas pela pesquisadora Miranda Fricker.
Em essência, quando uma pessoa tem excelentes ideias, mas encontra dificuldade de escuta e de apoio ao desenvolvimento de seus projetos tão somente por ser esta a interlocutora. Ou seja, não foi autorizado a esta pessoa a possibilidade de utilizar seu poder social, a sua capacidade de influenciar as coisas como acontecem.

E, notadamente, isto acontece muito mais com mulheres em quaisquer campos profissionais. Um exemplo aclarador disto aconteceu entre Simone de Beauvoir e Jean Paul Sartre. Miranda Fricker elucida em seu livro: Injustiça epistêmica a situação, na qual aborda a insegurança de Simone face aos estudos da Filosofia por constantemente ser questionada por Sartre, embora fossem amigos claramente, este praticava injustiça epistêmica contra Simone por questões de gênero.

Na seara dos relacionamentos, embora o calendário alerte ser o ano de 2024, a última semana do mês de fevereiro noticiou veemente a volta do relacionamento de um cantor com sua ex-noiva, trata-se de Luan Santana e Jade Magalhães, o casal tem mais de 10 anos de história, mas as notícias que saíram relacionadas à Jade foram bem precárias ou até sutilmente misóginas.

Houve até um determinado portal que resolveu apontar quais os procedimentos estéticos que Jade havia se submetido ao longo dos anos desde que conheceu Luan. Contudo, nenhuma reportagem chamou atenção para a construção profissional e pessoal da moça, apesar de esta poder apontar uma vasta lista de exemplos para as mulheres.

Jade Magalhães é formada em Moda por uma Universidade privada, no Paraná, influenciadora digital agenciada pela Sato Rahal, na qual publiciza várias marcas de renome-nacionais e internacionais. É disseminadora da moda circular e da valorização da moda nacional. Tratando-se de economia as ações da influenciadora potencializam todo um setor pujante e, consequentemente, há valor agregado para oferecer enquanto notícia, sobretudo, por ter se mostrado um exemplo de força e de resiliência no término de seu noivado.

Tais notícias são bem mais proveitosas de serem veiculadas pela mídia, pois enaltecem e empoderam a imagem feminina, embora o machismo arraigado na sociedade dita que a mulher tem de ser diminuída face ao brilho do homem. No entanto, o noticiado tem a ver com a sua imagem atrelada a um relacionamento ou a sua aparência.

Quantas mulheres ao adentrarem em um relacionamento não possuem sua história reduzida para agregar valor ao do homem? A mulher quando passa a ser do lar é vista como preguiçosa e até interesseira, no entanto, não se fala do tanto de trabalho não reconhecido envolto. Ademais, há aquelas mulheres que vão conquistando as duras penas espaços de poder no meio corporativo, no poder público e na iniciativa privada de um modo geral. O percurso dessas não é leve, pelo contrário. Pois, se são casadas passam a difundir que foi fácil o sucesso para estas pois os maridos abriram as portas, se solteiras é bem pior o cenário, vez que já ditam que os caminhos foram abertos por homens de poder aos quais tais mulheres seduziram.

Desse modo, raramente são reconhecidos os méritos às mulheres da maneira devida. Para tanto, isto retrata a teoria do teto de vidro, a qual é uma metáfora para preconceito e discriminação contra as mulheres como líderes ou líderes potenciais, que pode afetar a habilidade de mulheres em adquirir e exercer autoridade e pode produzir discriminação quando traduzido em decisões organizacionais ou políticas. Dessa forma, o conceito de teto de vidro também permite uma análise da tímida presença de mulheres em posições de poder, além de qualificar a presença daquelas que conseguem acesso a tais posições, mas que se encontram retidas em estágios mais iniciais e menos valorizados da carreira.
Em paralelo, a busca pela igualdade entre homens e mulheres é um dos valores fundamentais em alguns países, a exemplo, da União Europeia que objetiva tornar a Europa um dos lugares mais seguros e justos do mundo para mulheres.

Entre os compromissos dos países membros estão: promover a independência econômica, eliminar as disparidades salariais, promover o equilíbrio na tomada de decisões, reduzir a violência baseada em gênero e promover a igualdade dos gêneros fora da União Europeia. A América Latina é uma das regiões tidas como foco deste último compromisso, e o Brasil é um dos países que precisam de ajuda por ser o terceiro pior país da América Latina em direitos políticos para as mulheres. Segundo o Atenea, relatório elaborado pela ONU Mulheres e pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) sobre direitos políticos das mulheres, entre 11 países o Brasil ficou em nono lugar (ONU Mulheres Brasil, 2020).

Os dados podem ser modificados a partir da ampliação do acesso das mulheres às posições de poder e decisão, as quais deve não deve ter como meta apenas a garantia de paridade, mas a própria transformação dessas arenas, no sentido da construção de uma sociedade mais justa e diversa.

Por fim, no cotidiano há a conscientização mais coloquial por meio de aberturas femininas aos centros de fala e, consequentemente, a busca pelo ato de culturalizar a sociedade face as transformações sociopolíticas. Exercícios que séries como The Bold Type; Sex and the city e o Gambito da Rainha tem levantado a questão de gênero como pauta fundamental à uma sociedade mais justa. Pode-se dizer que é uma tarefa positiva, vez que o acesso à cultura por meio do sistema cinematográfico é uma via bastante acessível a qualquer pessoa do povo.

Autora: Dayane Nayara, advogada e professora

By Redação

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