O que a neurociência já sabe sobre a influência das telas sobre o desenvolvimento do cérebro de crianças?
Sim, faz mal e está muito bem comprovado!
Um alerta para profissionais que lidam com crianças – pediatras, neuropediatras, psicólogos, profissionais da reabilitação (fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, nutricionistas), professores, pedagogos.
Estudos científicos trazem sim prejuízo ao desenvolvimento neurológico.
Primeiro precisamos entender como ocorre o desenvolvimento normal.
Primeira infância:
A primeira infância é o período que abrange os primeiros 6 (seis) anos completos ou 72 (setenta e dois) meses de vida da criança. São nos primeiros anos de vida que ocorrem o amadurecimento do cérebro, a aquisição dos movimentos, o desenvolvimento da capacidade de aprendizado, além da iniciação social e afetiva. Estudos mostram que quanto melhores forem as experiências da criança durante a primeira infância e quanto mais estímulos qualificados ela receber, maiores são as chances de ela desenvolver todo o seu potencial. Pesquisas têm demonstrado que essa fase é extremamente sensível para o desenvolvimento do ser humano, pois é quando ele forma toda a sua estrutura emocional e afetiva e desenvolve áreas fundamentais do cérebro relacionadas à personalidade, ao caráter e à capacidade de aprendizado.
Por quê?
1- Somos resultados de estímulo social contínuo ao longo das eras.
O cérebro é um órgão de evolução contínua. O nosso cérebro de milhares de anos atrás no início da humanidade é diferente do cérebro de humanos atuais – o estímulo em comunidade, sociedade, com família, com a natureza permitiu isso.
2- Os vídeos disparam circuito da gratificação e prazer de maneira inadequada.
O estímulo de telas e celulares por vídeos é muito excessivo – um estímulo sonoro e visual ainda muito forte em um cérebro ainda não preparado, especialmente nos primeiros 1000 dias de desenvolvimento do cérebro de crianças e primeira infância e toda a fase de desenvolvimento do cérebro que pode chegar até 18-21 anos.
Podemos comparar que o vício em telas é parecido com a adição de drogas – dependência. O cérebro é condicionado a querer mais estímulo, quando não tem, gera ansiedade, irritabilidade, dificuldade de aceitar nãos.
3- Reforço de um comportamento passivo que não constrói conexões cerebrais! Precisamos estimular nossas crianças para estimular seu aprendizado!! Esse momento é fundamental!! Aprendizado motor, verbal e social. Precisamos lembrar que um componente fundamental no processo de aprendizagem de crianças é a imitação, utilizando os neurônios espelho. Olha para seu pai, sua mãe, imita o comportamento. Se eu só assisto TV, celular, tablet, não vejo e não aprendo, não evoluo.
O uso excessivo de telas pode ter impactos negativos no desenvolvimento infantil, incluindo:
Problemas de atenção e concentração: o uso de telas pode estimular o cérebro de forma excessiva, levando a problemas de atenção e concentração e relações interpessoais.
Dificuldades de aprendizagem: o uso de telas pode dificultar o desenvolvimento de habilidades cognitivas, como a leitura e a escrita. Reduz o tempo de aprendizado, processo ativo é limitado ao estar passivamente de frente a tela.
Problemas de sono: a luz emitida pelas telas pode atrapalhar o sono das crianças. Gera hiperestimulação cerebral.
Aumento do risco de obesidade: o uso de telas pode levar a um estilo de vida sedentário, o que aumenta o risco de obesidade. Reduz liberação de hormônio da saciedade.
Exposição a conteúdo inadequado: as crianças podem ser expostas a conteúdo inadequado, como violência, pornografia e discurso de ódio.
O que fala a OMS?
A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem se dedicado a fornecer diretrizes valiosas para a saúde e o desenvolvimento infantil, e uma das áreas em que têm se destacado é o tempo de tela para crianças na primeira infância. Essas recomendações são fundamentais para garantir um ambiente saudável e propício ao crescimento das crianças.
Menores de 2 anos: Restrição Total.
De acordo com a OMS, crianças com menos de 2 anos de idade não devem ter acesso algum a telas eletrônicas, como smartphones, tablets ou televisões. Isso se deve ao fato de que os primeiros anos de vida são cruciais para o desenvolvimento cognitivo, emocional e físico da criança, e a exposição a telas nessa fase pode prejudicar esses aspectos.
Aqui é importante reforçar a necessidade de uma rede de apoio familiar, que permita uma mãe fazer não ter que usar as telas para entreter as crianças durante suas atividades.
Entre 2 e 5 anos: Uma hora por dia.
Para crianças com idades entre 2 e 5 anos, a OMS recomenda uma exposição limitada ao tempo de tela, com um máximo de uma hora por dia. Nessa faixa etária, as crianças ainda estão em um estágio crucial de desenvolvimento e precisam de interações sociais, atividades físicas e brincadeiras para estimular suas habilidades cognitivas e sociais.
Entre 6 e 10 anos: Até duas horas por dia.
À medida que as crianças crescem e entram na faixa etária de 6 a 10 anos, a OMS permite um aumento no tempo de tela, com um limite de até duas horas por dia. No entanto, mesmo nessa fase, é fundamental equilibrar o tempo de tela com atividades ao ar livre, leitura e interações sociais para promover um desenvolvimento saudável e equilibrado.
Como limitar o tempo de tela?
A seguir, algumas dicas para limitar o tempo de tela das crianças:
Estabeleça regras: defina um limite de tempo para o uso de telas e explique para a criança a importância dessa regra.
Seja um exemplo: as crianças aprendem pelo exemplo.
Dr. Luiz Severo – Neurocirurgião