A profissão de influenciador digital é recente e já se tornou o emprego dos sonhos de muitas pessoas. Afinal, a carreira chama atenção. Mostrar o dia a dia, criar tendências e motivar a decisão de compra estão entre as suas responsabilidades. Apesar do lado glamoroso que é mostrado para o público, os influenciadores também enfrentam desafios da profissão que podem comprometer um ponto muito importante: a saúde mental.
Há inúmeros Influencers que vêm surgindo com a saúde mental abalada, confessando ter depressão, crises de ansiedade e vários outros transtornos por serem alvos dos chamados ‘haters’ – aqueles que perseguem digitalmente outras pessoas para criticá-las, apontar erros, ridicularizar e ofender.
Alguns chegaram a cometer suícido por influência e comentários maldosos em suas redes sociais. Foi o caso da blogueira Alinne de Araújo, de 24 anos, que tirou a própria vida em 2019 após compartilhar em suas redes sociais que havia casado consigo mesma depois de seu noivo desistir de casar e por um fim no relacionamento, Alinne foi vítima de ataques, julgamentos e comentários terríveis, que a influenciou a dar um ponto final em sua vida. Outro caso recente foi o do filho da cantora Walkyria, Lucas Santos, de 16 anos, que cometeu suícido em 2021 após ser alvo de comentários homofóbicos nas redes sociais ao postar um vídeo.
Segundo a psicóloga Talita Padovan, é preciso acabar com o preconceito que existe em torno do tema suicídio. A profissional acredita que falar sobre o assunto abertamente é uma forma de prevenção.
“Infelizmente ainda existe muito preconceito com relação ao suicídio, que ainda é um estigma social. Muitas questões relacionadas, a moralidade e cultura, ainda trazem a ideia de que o suicídio é um ato de covardia e de fraqueza. Acredito que fatores como esses contribuem para as pessoas não buscarem ajuda, se sentirem com vergonha e medo do julgamento que podem vir a sofrer. O suicídio é uma questão e um problema de saúde pública. É preciso que falemos abertamente sobre o tema, e que principalmente possamos pensar em atitudes preventivas, como por exemplo acolher os indivíduos que apresentem algum transtorno psicológico ou psiquiátrico que possa ser fator predisponente, e também as pessoas que já tentaram tirar suas vidas”, avalia Talita
De acordo com o Datafolha, 79% dos brasileiros dizem que as redes sociais podem contribuir para aumentar os problemas de saúde mental. Para 84% dos entrevistados, os haters, pessoas que julgam e propagam o ódio nas redes sociais, podem influenciar no crescimento do nível de suicídio na sociedade. E mais: quatro a cada dez pessoas (38%) se sentem cobradas pelo conteúdo que publicam nas redes sociais e têm medo constante de serem julgadas.
Por conta disso, a pressão com que os influenciadores digitais lidam no dia a dia pode fazer com que eles desenvolvam ansiedade, estresse e depressão. Ainda de acordo com uma pesquisa feita pelo Criadores ID, 22,2% dos influenciadores sofrem de transtorno de ansiedade e 6,4% sofrem de depressão.
A psicóloga orienta como aprender a lidar com situações desse tipo, e não se perder psicologicamente. “Uma forma de não perder esse controle é fazer um trabalho psicológico para entender que uma coisa é a vida dele(a) e outra é o trabalho dele (a). O ideal é não misturar essas duas coisas. Sempre oriento a estipular horários para as redes sociais. É como um trabalho. Publicar, acompanhar e acabou. Para que também a pessoa tenha uma vida fora das redes sociais produtiva e saudável. Procurar ter ciclos de amigos fora das redes sociais, ir para restaurantes, se divertir, ir malhar em uma academia… É importante que ele(a) tenha esse equilíbrio entre a rede social, o trabalho e a vida privada. Se uma pessoa dedica sua vida 24 horas às redes sociais, ela vai adoecer em algum momento”, explica.
“As pessoas precisam compreender que o que se vê na rede social é só um recorte muito pequeno da vida de uma pessoa. Não é de fato a vida dela, e essas comparações de achar a vida do outro melhor do que sua própria também é adoecedor”, complementa a psicóloga.
Justamente por causa da parte obscura da profissão, muitos influenciadores já confessaram em suas redes sociais que sofrem com algum transtorno mental. Nomes como Whindersson Nunes, Luva de Pedreiro, Kéfera Buchmann, Thaynara OG, Felipe Neto, e tantos outros.
“Muitas vezes o pedido de ajuda não será feito verbalmente, mas por sinais que a pessoa dará na alteração de sua rotina e no modo de se relacionar com outras pessoas”, alerta Talita Padovan, psicóloga.
Ao chegar nesses diagnósticos ou em períodos em que a saúde mental está mais esgotada, muitos optam por dar um tempo das redes sociais ou nos trabalhos para se cuidar. Além disso, é preciso estar atento à saúde, ter acompanhamento psicológico e planejar uma rotina profissional organizada e com menos pressão. Assim, a criação de conteúdo se torna uma atividade mais saudável e menos estressante.