Em uma noite histórica, onde o plenário da Câmara dos Deputados recebeu mais de 200 deputados e outras pessoas, em sua maioria moradores de favelas, a Central Única das Favelas (Cufa) e a Frente Nacional Antirracista (FNA), juntamente com os deputados, lançaram oficialmente a Frente Parlamentar em Defesa das Favelas e Respeito à Cidadania dos seus Moradores.
O evento ocorreu na última quarta-feira (14) e também contou com presença de mais de 15 ministros, como Ana Moser (Esporte), Anielle Franco (Igualdade Racial), Margareth Menezes (Cultura), Silvio Almeida (Direitos Humanos), Simone Tebet (Planejamento) e Sônia Guajajara (Povos Indígenas), que também fizeram fala. Além dos deputados, entre eles o presidente da Frente no Congresso Washington Quaquá e um de seus idealizadores Lindbergh Farias, empresários, lideranças de favela e membros da Cufa, representados pelo conselheiro Preto Zezé e pela atual presidente nacional Kalyne Lima.
“Tenho muito orgulho de fazer parte de uma organização que me ensinou e pautou toda a minha história na coletividade. Eu não tenho dúvidas que isso aqui é um marco na história do país, a favela nunca se viu tão empoderada e tão pertencente a um espaço de construção política como nesse momento. Cada homem, mulher, criança, idoso, dos territórios que atuamos, independente se o identifica como favela, periferia, comunidade, quebrada ou vila, todos nós e todas nós estamos prontos para construir uma política mais participativa, mais inclusiva e com mais justiça social”, disse a presidente nacional da Cufa, Kalyne Lima.
Juntamente com a ministra da cultura Margareth Menezes, Preto Zezé anunciou uma parceria da Cufa, do Ministério da Cultura (MinC) e da Vale, para fomentar a cultura das favelas de todo o Brasil, expandindo incentivo para os moradores que atuam no ramo e, muitas vezes, não possuem acesso a editais, entre outros processos burocráticos.
“Tem muita gente produzindo coisas boas e intensas nas favelas do país, mas que não possui CNPJ e não tem acesso aos editais do MinC. Então é preciso produzir outras dinâmicas de participação e de acesso a políticas públicas para essa gente e não só para os mesmos. Portanto, sugerimos à Ministra Margareth que fosse feita uma grande mobilização nas favelas do Brasil, a fim de descentralizar os recursos. Com isso, o MinC vai lançar um edital, em parceria conosco e com a Vale, que vai viabilizar recursos e incentivos para que esses produtores culturais das favelas brasileiras, sobretudo os de fora do eixo Sul e Sudeste, sejam contemplados com recursos e, portanto, tenham sua arte e seu trabalho reconhecidos, mesmo não transitando nos principais fóruns”, explicou Preto Zezé.
O presidente da Frente Parlamentar em Defesa das Favelas e Respeito à Cidadania dos seus Moradores no Congresso, o deputado federal Washington Quaquá, acredita que o Estado deve ter presença permanente nas favelas, desenvolvendo as políticas públicas necessárias nesses territórios. “A favela não pode ser vista pela política só como um manancial de voto ‘eu vou lá pedir voto, e vou embora’. Não. A favela tem que ser um local onde a política vai lá, instala a política pública e, então, transforma a vida do povo brasileiro”, explicou o deputado federal Washington Quaquá.
Além das falas das autoridades, a cerimônia também contou com desfile dos vencedores do Top Cufa, evento de moda promovido pela instituição, e uma apresentação do rapper Augusto Metralha. A emoção ficou por conta do público que, no intervalo da fala de cada autoridade, entoou famosas músicas, sobretudo de funk, que falam sobre a realidade da favela e seus moradores.
Sobre a Cufa
Presente há mais de 20 anos nas favelas brasileiras, a Central Única das Favelas (Cufa) promove atividades nas áreas de educação, lazer, esportes, cultura e cidadania, utilizando ferramentas como grafite, DJ, break, rap, audiovisual, basquete de rua, literatura, entre outros. Além disso, promove, produz, distribui e veicula a cultura hip hop por meio de publicações, discos, vídeos, programas de rádio, shows, concursos, festivais de música, cinema, oficinas de arte, exposições, debates e seminários, promovendo a integração e inclusão social.
Entre os principais projetos da instituição destacam-se o Hutúz Rap Festival, maior evento de hip-hop da América Latina, a LIBRA, Liga Internacional de Basquete de Rua, e a Taça das Favelas, maior campeonato de futebol entre favelas do mundo.
Durante a pandemia do Covid-19, a Cufa utilizou sua capilaridade para conectar a favela e amenizar ao máximo as dificuldades que os moradores de favela enfrentam. Com o programa Mães da Favela, a instituição entregou cestas básicas e chips com internet gratuita por 6 meses, garantindo assim uma segurança alimentar maior e a educação de muitas crianças, que precisavam migrar para as aulas online. Os benefícios são direcionados às mulheres das favelas, que chefiam os seus lares. Por seu conhecimento sobre esses territórios, a Cufa entendeu que ao apoiar essas mulheres, era possível criar uma rede de proteção muito maior e com isso o projeto já atendeu a mais de 6 milhões de pessoas.