Quando falamos em corrida, logo vem à cabeça a necessidade de um bom par de tênis para que o exercício seja feito da melhor forma. A justificativa para isso é que esse tipo de calçado absorve impacto, aumenta a performance e previne lesões. No entanto, pesquisas mostram que nem sempre escolher um bom tênis é a melhor opção. Correr descalço pode trazer muito mais benefícios.
Segundo o personal trainer Samorai, especialista em movimentos e treinamento 3Dimensional e fundador do Instituto de Performance Samorai, o pé é dotado de uma incrível tecnologia e possui diversas adaptações que nos ajudam a caminhar e correr. “Um fato interessante é que quando o pé toca o chão, pensando em uma corrida, a carga exercida sobre ele pode chegar a dez vezes o peso corporal. Isso poderia gerar um tremendo impacto, desconforto e até uma fratura de algum osso. Mas, a principal tarefa do corpo, começando principalmente pelos pés, neste cenário, passa a ser desacelerar esse choque”, explica Samorai.
Ele ainda completa que considerando a mecânica do corpo, na marcha ou na corrida, ao entrar em contato com o chão o pé tem uma forma e após o corpo passar por cima, ele passa a ter outra, executando assim as duas funções com maestria. Existem argumentos que de que os tênis absorvem impacto e aumentam a propulsão, mas isso não é verdade, pois muitas pesquisas mostram que ou eles fazem uma coisa boa ou outra. Outra questão é dizer que eles previnem lesões, mas se isso fosse verdade as pessoas não se machucariam mais, já que todas correm de tênis.
Diversas pesquisas têm mostrado justamente o contrário, que correr sem tênis diminui a incidência de lesões ou que não altera a incidência delas. Prova disso é que na maioria dos países africanos muitos atletas passam a maior parte do tempo correndo descalços. Alguns até 18 anos sequer calçaram um tênis na vida e eles têm os maiores resultados nesse tipo de prova.
Samorai reforça que o fato é que nenhum tênis consegue reproduzir a eficiência do corpo humano. “O que acontece é que atualmente não andamos mais descalços e como o corpo responde a uma lei de uso e desuso, por estarmos sempre de calçados, transferindo para eles a função de desacelerar e propulsionar, com o passar do tempo, alguns mecanismos do corpo vão perdendo eficiência e assim, nos tornando dependentes do tênis. Sendo assim, correr de tênis passa a ser mais seguro e eficiente, não pelo tênis em si, mas porque nosso corpo desaprendeu a fazer essa tarefa. A boa notícia é que se voltarmos a estimular, ele volta a evoluir nesse quesito e com o tempo volta a ter alto rendimento e segurança”, afirma Samorai.
O personal explica que o ideal é ir se adaptando aos poucos, progressivamente. “Faça seu treino como você sempre fez e no final ou no começo, corra ou ande, dependendo do seu nível, uns 2 minutos descalço. Faça isso por um tempo e vá aos poucos progredindo. Lógico que se sentir alguma dor, pare a atividade imediatamente”, diz ele.
A recomendação é procurar um profissional especializado em treinamento 3Dimensional para que ele possa fazer uma avaliação dos movimentos, detectar as compensações no corpo e corrigi-las para que o corpo faça o papel dos tênis. Há também o fato de que nas ruas pode ter de tudo no chão, como cacos de vidro, fezes de cachorro, prego, asfalto superquente, que podem cortar, ferir ou queimar nossos pés.
Uma possível solução seria o uso dos chamados tênis minimalistas, que protegem desses ferimentos, mas não interferem nas funções do corpo, em especial na função dos pés. Alguns têm até o formato dos pés, com os dedinhos, como se fosse uma luva. “Eles podem ser um bom aliado para você que quer usar a corrida como um exercício para aprimorar as capacidades do seu corpo”, completa Samorai.