O Brasil é o país recordista em labioplastias no mundo. A cirurgia íntima, indicada principalmente a mulheres que apresentam hipertrofia dos pequenos lábios vaginais, foi realizada por 37.170 brasileiras em 2022, de acordo com a mais recente Pesquisa Global sobre Procedimentos Estéticos/Cosméticos da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (Isaps), que congrega cirurgiões estéticos e reconstrutivos de mais de 100 países. “Muitas vezes, a indicação das cirurgias íntimas extrapola as preocupações estéticas. Em um número considerável de casos, os procedimentos também visam à funcionalidade”, afirma o cirurgião plástico Juliano Pereira.
Na clínica do especialista Juliano Pereira, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, o número de procedimentos íntimos no último ano aumentou 20%, o que corrobora com os dados do relatório Isaps. Desde 2013, quando a pesquisa foi realizada pela primeira vez, o Brasil já se posicionava no topo do ranking, com 13.683 labioplastias. Ano a ano, a posição nacional se mantém na Pesquisa Global.
A hipertrofia dos pequenos lábios está entre as causas principais que levam as mulheres a procurar a cirurgia plástica. “Nesta condição, há prejuízos à parte estética. Muitas pacientes se queixam, principalmente, da evidência dos pequenos lábios ao usarem roupas de banhos”, diz Pereira. O médico destaca ainda o aspecto funcional da hipertrofia. “Em alguns casos, a condição traz um incômodo, que chamamos de dispareunia, que é a dor durante as relações sexuais.”
O procedimento, que consiste em realizar a ressecção de uma parte dos pequenos lábios, e em seguida reconstruí-los, é considerado simples e seguro pelo cirurgião, “com resultados satisfatórios”. A intervenção, da mesma forma, pode ser aplicada aos grandes lábios vaginais.
Outra condição com indicação de cirurgia íntima é a hipertrofia do clitóris. Segundo Pereira, uma das causas para o aumento de casos é o uso de hormônios anabolizantes. “Para a paciente que se incomoda com a hipertrofia, temos a opção da clitoroplastia como forma de resolver o problema”, destaca. A cirurgia visa deixar o clitóris menos visível sem afetar a sensibilidade do órgão.
Maratonistas e adeptas dos crossfit também compõem o grupo de mulheres que buscam a cirurgia íntima. “No caso das praticantes regulares destas atividades físicas, o que se observa é o emagrecimento. O percentual baixo de gordura, presente em todo o corpo, não é diferente na região íntima”, explica Pereira.
Nestes casos, pela falta do coxim gorduroso, a flacidez nos grandes e pequenos lábios vaginais passa a ser um incômodo. Uma alternativa, avalia o cirurgião plástico, é colher gordura do corpo com lipoaspiração para realizar um enxerto na região afetada. “Este procedimento tem função estética, mas pelo fato de o tecido gorduroso conter células-tronco, isso também pode auxiliar na hidratação da vagina, trazendo benefícios durante a prática sexual.”
Para as pacientes que apresentam pouca quantidade de gordura corporal utilizável no enxerto, o preenchimento da região íntima pode ser feito com ácido hialurônico. “Esta substância é a mesma usada na harmonização facial. A aplicação na área intima da paciente também pode ser uma alternativa satisfatória”, afirma.
Nas cirurgias íntimas, a preocupação do especialista é evitar que as cicatrizes fiquem visíveis. “Também são utilizados pontos naturalmente absorvidos pelo organismo para evitar incômodo local no pós-operatório e, muitas vezes, para que a paciente não precise voltar ao consultório para removê-los.”
Com a rápida recuperação, as pacientes podem retomar suas atividades, como exercícios físicos, em uma semana. “Entretanto, nas relações sexuais é preciso aguardar o prazo mínimo de 45 dias, de forma que haja a cicatrização completa da região”, recomenda.
Tão importante quanto observar os vários critérios que possibilitem a realização das cirurgias íntimas é levar em consideração a idoneidade e a qualificação do cirurgião plástico. É fundamental verificar se o profissional integra a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. “Neste caso, o paciente terá a certeza de que o cirurgião cumpriu um rito acadêmico de formação e habilitação em residências médicas que lhe permite exercer o ofício com responsabilidade e plenitude”, finaliza Juliano Pereira.