As crianças do Pirambu, uma das maiores comunidades de Fortaleza, vivem em um ambiente muitas vezes marcado por estereótipos sociais que associam a região à falta de infraestrutura, violência e poucas oportunidades. Essas percepções tendem a obscurecer a verdadeira riqueza cultural e as histórias vibrantes que permeiam a vida na região. Neste contexto, o projeto “O Rio Que Traz – Ser Criança na Beira da Vida” encontra no Pirambu um terreno fértil para a realização de uma formação arte-educacional, capacitando as crianças da comunidade a expressarem suas próprias narrativas fotográficas e a desafiarem os estereótipos que limitam suas vidas. Apesar desses desafios e das expectativas limitadas que o mundo impõe sobre elas, os pequenos encontram maneiras de se expressar e de desenvolver resiliência, mesmo em um contexto onde suas vozes e identidades são frequentemente subestimadas pela sociedade.
O projeto “O Rio Que Traz – Ser Criança na Beira da Vida” é uma iniciativa de formação fotográfica, idealizada pelo fotógrafo Emrah Kartal, que visa capacitar crianças da comunidade do Pirambu, em Fortaleza, para contar suas próprias histórias através da fotografia. Vencedor do 3º Edital de Cultura e Infância do Secult-CE e do Edital das Artes do Secultfor , ambos pela Lei Paulo Gustavo, o projeto oferece oficinas sobre o uso de câmeras analógicas e técnicas de narrativa visual a um grupo de 10 crianças, entre 8 e 12 anos, em parceria com o Instituto Cai Cai Balão (Vila do Mar, 280-Pirambu). Com início das aulas marcado para a próxima sexta-feira, 23 de agosto, às 17h, o objetivo é promover o protagonismo social infantil e fortalecer a identidade cultural dessas crianças, moradores de uma das maiores comunidades da cidade.
O fotógrafo e jornalista turco Emrah Kartal, radicado em Fortaleza desde 2013, será o responsável por ministrar as oficinas do projeto “O Rio Que Traz – Ser Criança na Beira da Vida”. Com uma vasta experiência em projetos sociais e documentários fotográficos, Kartal tem uma profunda conexão com a comunidade do Pirambu, onde já desenvolveu diversos trabalhos. Sua abordagem vai além do ensino técnico; ele utiliza a fotografia como uma ferramenta de transformação social, buscando inspirar as crianças a explorar e valorizar suas próprias narrativas. Através de seu olhar sensível e comprometido, Kartal pretende ajudar os jovens a descobrirem novas formas de ver e retratar o mundo ao seu redor, incentivando um maior protagonismo e reconhecimento de suas identidades dentro e fora da comunidade.
“Além de capacitar as crianças em técnicas fotográficas, o projeto também se propõe a criar um ambiente seguro e propício para o desenvolvimento dessas atividades, garantindo a continuidade do aprendizado mesmo após o término das oficinas,” ressalta Kartal.
Ao longo de sete meses, as crianças serão orientadas a criar narrativas fotográficas que retratem a vida e a cultura local. As aulas, com duração de duas horas cada, ocorrerão três vezes por semana (segunda, quarta e sexta-feira). O resultado deste trabalho será apresentado em um fotolivro e em uma exposição, com lançamento previsto para o final do curso. Com essa iniciativa, o projeto busca desafiar estereótipos e trazer visibilidade para as histórias da comunidade do Pirambu.
O aluno do curso Jackson Mateus de Oliveira, de 12 anos, já sonhou em ser fotógrafo e por isso guarda grandes expectativas para a formação. “Uma vez vim a um evento aqui no instituto que tinha um fotógrafo. Fiquei curioso e pedi pra ele me ensinar a fotografar. Ele me ensinou um pouco a mexer na câmera, e agora quero fazer o curso para aprender mais,” relatou.
A mãe do pequeno Jackson, Joana Darc de Oliveira (32), também está com ótimas expectativas para a participação do filho. “Eu acho interessante ele fazer essa formação, porque é algo que ele gosta. Ele pediu pra participar. Quero que ele pense desde novinho no que ele quer fazer quando crescer e como ele sempre gostou de câmeras, tô aqui pra apoiar ele no curso,” diz a mãe.
Através da arte, “O Rio Que Traz” não só empodera essas crianças, mas também promove o acesso à cultura para toda a comunidade, com exposições públicas e distribuição gratuita do fotolivro. Este projeto não é apenas sobre fotografia; é sobre dar voz e valorizar as histórias e as identidades das crianças do Pirambu, transformando realidades e enriquecendo a cultura brasileira.