Crédito: Melina Furlan
Uma palavra misteriosa que define uma identidade, a eterna jornada de autoconhecimento, conversas íntimas e a vida na estrada serviram de mote para o cantor e compositor capixaba André Prando dar forma a seu terceiro álbum, Iririu, que chegou às plataformas de áudio no dia 12 de julho (ouça aqui), acompanhado de visualizers no canal de YouTube do artista (assista aqui). Seis anos após o lançamento de seu último projeto de estúdio, Voador (2018), o artista retorna com composições mais diretas, interpoladas com uma sonoridade que passeia de forma natural por diferentes gêneros como reggae, baião, tango, pop, blues, congo e rock.
“Este disco marca uma mudança estética e conceitual no meu trabalho, resultado de um André mais maduro. Quis abrasileirar mais, explorar ritmos diferentes e aproximar a minha música de quem eu sou”, afirma ele, que assina a produção musical em parceria com Rodolfo Simor.
Lançados previamente, os singles “Iririu” (ouça aqui) e “Zum Zum Zum”, este último com participação de Juliana Linhares (ouça aqui), iniciam o álbum e dão o tom da pluralidade que será destrinchada no decorrer do trabalho. O assobio logo no começo de “Kaluanã, o grande guerreiro” reforça a pegada regueira da terceira faixa, criada em homenagem ao filho de um casal de amigos do cantor. “Eles moram no Caparaó, uma região de montanhas do Espírito Santo que me inspira e energiza muito. Homenageei o Kalu, uma criança com nome tupi, e quis fazer relações entre o processo de aprendizado na infância e na vida adulta, costurando com reflexões sobre a natureza e conceitos antropofágicos. Me inspirei também na obra do escritor Ailton Krenak”, conta. Ao finalizar a canção, André cita a famosa frase de Oswald de Andrade, “Tupi or not tupi, that’s the question”, presente no Manifesto Antropófago, com a intenção da busca de uma identidade própria.
“O Lapidário de pedras no caminho” traz referências da bossa nova e da tropicália. “Ela fala sobre uma jornada de autoconhecimento e transformação pessoal, parecendo soar como uma conversa íntima com alguém que já passou por situações parecidas”, pontua o artista. “Frágil”, quinta faixa do projeto, retrata a força em assumir nossas fragilidades, seja em mergulhos amorosos da vida ou qualquer circunstância que nos faça sentir a frustração de ir da felicidade a um “ambiente completamente descoordenado” quando tudo acaba e há a necessidade de se reerguer.
“AMORTECONSIDERO” é um cortejo fúnebre celebrativo. O título carrega duplo sentido, em que é possível ler “amor te considero” ou “a morte considero”, sugerindo a necessidade de coexistência das duas coisas. “O conceito do título é a gente considerar o amor o tempo todo, pra viver uma vida mais presente, mais amorosa, valorizando cada momento. E, também, a necessidade de considerar a morte o tempo todo. Afinal de contas, a morte é iminente, pode acontecer a qualquer momento, por um motivo inesperado”, explica.
Bem marcada pelo afrobeat e com um toque de reggae, “Voltinha de bike” é uma psicodélica homenagem à experiência de andar de bicicleta e também aos estudos do cientista Albert Hoffmann, que deu origem também à bike. “Logo, ela é, simultaneamente, divertida e profunda”, conta Prando. Piano, violão e guitarra formam o ritmo de um tango em “Patuá” para falar sobre a vida do artista na estrada e as experiências adquiridas indo pra lá e pra cá, quase como um cigano levando no peito aquilo que não cabe na mala. No final desta oitava canção, André entoa os primeiros versos de “Nuvem passageira”, releitura da composição de Hermes Aquino com participação de Chico Chico (filho de Cássia Eller).
“Dharma”, música mais longa do álbum, é uma composição de Prando com o artista Luizga. “O arranjo, além da banda base, conta com quarteto de cordas, cítara, shruti box e um coro enorme, formado por outros artistas da cena de Vitória, amigos, minha mãe… é um coro forte e afetivo”, conta. “Assim como o conceito hindú por trás de dharma, o arranjo também tem doses de elementos da música oriental, tendo George Harrison como uma referência. É difícil dizer isso, mas talvez esta seja uma das minhas faixas favoritas”, completa.
“Chegamos ao fim de mais uma viagem”, recita André na décima primeira faixa, intitulada “Muita coisa”, que encerra o disco do artista capixaba de 34 anos. A música traz reflexões sobre a iminência de algo grandioso, em uma balada que transita entre a sutileza e a intensidade, como a vida deve ser e como o álbum Iririu se propõe.