Previsto para ser lançado em 2018, o livro de poemas a nova utopia, editora Quatro Cantos, só pode ser concluído neste ano pelo autor Régis Bonvicino e tem lançamento oficial previsto para o dia 29 de setembro, na Livraria da Vila, em São Paulo.
Iniciado em 2014, a obra teve conclusão somente este ano por um motivo: a morte precoce de sua filha, Bruna, forçou o autor a ficar recluso por 1 ano. De acordo com o próprio poeta, esse tempo permitiu que mais poemas fossem feitos. “Posso dizer que além de ser o maior projeto escrito, também é o mais complexo”, explica.
A nova utopia reúne 67 novos poemas e o livro se alterna entre o gênero poema ele mesmo, prosa poética curta e prosa poética mais longa. É marcado por uma variedade linguística, decorrente de espelhamentos, ou seja, de uma investigação do mundo contemporâneo de miséria e de mendigos, de decadência e desesperança, aqui e no exterior, Brasil e Europa em cotejos, contrastes e confrontos.
O cenário é a cidade: principalmente São Paulo, mas também Rio de Janeiro, São Luís do Maranhão, Paris, Nice, Roma, Sevilha, não para fins de “diário de viagens” mas para comparações e paralelos críticos.
“O livro consiste numa tentativa de interpretação dessas realidades e não em um “discurso” sobre ela, ou como os poemas são minuciosamente construídos. Escrita seca, mas sensível, articulando arte e cultura no cotidiano duro das pessoas na contramão dos sentimentalismos etéreos”, explica Bonvicino.
Não é à toa que o livro está em branco e preto, ao trabalhar com personagens em nível de sobrevivência: fascismos, guerras, imigrantes, indiferença, fome, atentados etc. Nesse aspecto, pode-se dizer que, de algum modo, se relaciona com o neorrealismo italiano sobretudo o de Pier Paolo Pasolini e Roberto Rosselini.
A nova utopia, ao penetrar na realidade das ruas e de seus conflitos, representa tentativa de buscar uma explicação para o caos e referida barbárie contemporânea. É um livro reflexivo e, por isso, não há nele poemas edificantes ou lugares de repouso. Seu tema mais central é o espaço público urbano degradado; os mendigos afloram como atores principais que não atuam; nos bastidores, os novos utopistas propõem, ambiguamente, suas ideias.
Primeiras impressões
O crítico cubano Ricardo Alberto Pérez observa que a poesia de Régis Bonvicino representa uma combinação feliz e pouco comum ao fundir a obsessão pela linguagem com a vocação intensa de estar nas ruas.
O crítico uruguaio, residente na Cidade do México, Eduardo Milán, escreve na orelha: “A lucidez poética de Régis Bonvicino se joga inteira quando evita toda nostalgia de outros tempos – tanto poéticos como históricos – para confrontar este presente histórico com o tempo da poesia”.
O poeta e crítico Luis Dolhnikoff assim se expressa: “Porque essa é uma poesia de uma beleza áspera e de uma imagética bruta, além de minuciosa. Disseca a seco a feiura caleidoscópica da cidade-mundo e do mundo urbanizado. E aproxima, afinal, a poesia brasileira contemporânea desse mundo até lhe roçar as chagas”.
O crítico Alcir Pécora afirma no prefácio do libreto Deus devolve o revólver (2019/2020): “A qualidade dessa poesia, por si mesma, é extraordinária – eis o que precisa ser dito antes de mais nada”.