O veterano está de volta. Cinco anos depois de cantar a guerra nas ruas de Fortaleza e expor as muitas cidades que pulsam dentro de uma metrópole com o álbum “Veterano”, o rapper brasileiro Nego Gallo volta o olhar para dentro de si e reflete sobre as complexidades do Brasil (e do Nordeste) evidenciadas desde a pandemia. O single “Sintera” é o marco do retorno e está disponível ao público no seu aplicativo de música.
“Sintera” é uma gíria de cria, comum na cidade de Fortaleza. Vem de “se interar”, tomar conhecimento, completar as ideias. E é um convite do artista para que o público conheça assuntos que ele julga merecerem destaque, direcionando o foco para as questões sociais, culturais e políticas que são importantes para ele, sem tirar o pé da rua e das comunidades.
Gallo fala dos “sonhos do bairro que tombam na rua por conta do golpe”, dos bailes, da vaidade, da fama e da favela. Reflete sobre realidades difíceis sem pesar porque sabe que o rap ainda é um lugar de maior liberdade dentro do que é possível pensar e perceber. A letra do novo single nasce a partir da pandemia, quando se viu em um não lugar, e destaca a afirmação e resistência do artista em um cenário que frequentemente deturpa reflexões e formas de fazer e pensar o rap.
A canção explora diversos contextos periféricos e experiências, revelando o contraste entre a realidade das periferias e as interpretações frequentemente distorcidas que cercam a cultura do Nordeste no cenário musical do rap nacional. “Sintera” é, acima de tudo, uma reflexão profunda sobre a visão de Nego Gallo em relação ao Brasil.
O artista acredita na existência de diversos “Brasis” e “Nordestes” dentro de um país diverso e multifacetado. “A faixa Sintera traz um certo deboche. Pensar que, com 49 anos, saindo de uma pandemia, com a possibilidade de recriar e de ressignificar o que parecia tão distante e confuso para um lugar como este de firmeza, de afirmação da vida, de gratidão por tudo o que ela tem me trazido”, afirma Gallo.
A ideia de indústria musical sempre pareceu frágil ao artista, que se esforça para dialogar com a arte e pensar na música como algo que possa se perpetuar com o tempo e não só como uma faixa para o verão. “Todos os meus processos criativos levam bastante tempo, porque são coletivos, são compartilhados em conjunto”, conta. “Sintera” é uma primeira amostra de um álbum novo que Nego Gallo se prepara para lançar ainda neste semestre.
Sobre o artista
O rapper criado em uma comunidade da costa oeste de Fortaleza (o Pirambu) vez por outra desce o país para influenciar o rapper nacional a partir do Sudeste. No grupo Costa a Costa, ganhou projeção nacional por volta de 2007 com o amigo Don L. “A gente foi muito feliz com essa experiência”, recorda. Alguns anos depois, em 2019, Gallo volta a ganhar espaço no país com o álbum Veterano, onde falava da cidade de Fortaleza e das relações que culminavam numa guerra que se desdobrava naquele momento.
Agora, Gallo está preocupado em olhar para si e para o Brasil. Seu retorno é marcado por uma mensagem poderosa e musicalmente envolvente, que se recura a ignorar a forte polarização do país.
“Sintera” tem a produção do próprio Nego Gallo e conta com colaborações de Léo Grijó, que assina keyboards, mixagem e masterização. Também tem participações de Emiciomar nos beats e guitarras de Bruno Dupré. A construção visual é de Kambô e direção artística de Wellington Gadelha, enquanto a produção executiva fica com a Plataforma Afrontamento.