Perder uma pessoa querida pode ser um dos momentos mais difíceis para familiares. Daí a delicadeza na hora de decidir sobre a doação de órgãos. No entanto, o ato pode ser a chance de ressignificar um momento de dor, sendo esperança de uma nova vida para quem os recebe. De acordo com a Central de Transplantes da Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa), o Ceará realizou 1.687 transplantes de órgãos e tecidos em 2023. O diagnóstico de morte encefálica é o ponto inicial para o desencadeamento do processo de captação. E esse protocolo é realizado em diversos estabelecimentos de saúde, a exemplo das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs).
A morte encefálica é a constatação irremediável e irreversível da lesão nervosa e significa morte clínica, legal e social. Quando a morte cerebral acontece, há perda irreversível das funções vitais que mantêm a vida, entre elas a perda da consciência e da capacidade de respirar. O paciente pode ser um potencial doador de órgãos, entre eles córneas, rins, fígado, coração, pulmão e pâncreas. Um único doador pode salvar até oito vidas.
“O protocolo é realizado em emergências e unidades de terapia intensiva. A UPA segue as orientações do Ministério da Saúde ao realizar a detecção e avaliação do corpo até que se comprove que o paciente foi a óbito. É feito todo um trabalho em equipe, desde a equipe da assistência que faz a avaliação do corpo até a equipe administrativa que busca potenciais doadores para receber esses órgãos”, explica Sandro Bandeira, médico chefe de equipe da UPA Praia do Futuro.
Na noite de 9 de janeiro, por exemplo, a unidade realizou todos os procedimentos necessários para salvar a vida de um paciente, entretanto, ele não sobreviveu. De forma cautelosa, a unidade chegou ao diagnóstico e reconhecimento de morte encefálica por dois profissionais distintos e devidamente habilitados para a função, conforme a legislação. Após a constatação por meio de exames, a família foi comunicada do fato e autorizou a captação de rins e fígado, que foi realizada pela equipe do Hospital Geral de Fortaleza (HGF).
“Na UPA, há profissionais legalmente habilitados para reconhecer a suspeita, confirmar a morte encefálica e prestar os cuidados necessários ao potencial doador. A captação dos órgãos no HGF, neste caso, foi possível porque houve um trabalho na condução clínica e de suporte à doação, que foi iniciado na UPA”, pontua Patrícia Santana, diretora-geral das UPAs geridas pelo Instituto de Saúde e Gestão Hospitalar (ISGH).
“É feito o reconhecimento de paciente em morte encefálica nas emergências e UTIs até o momento da captação. Destacamos o empenho dos profissionais em preparar o órgão para a captação. A UPA faz a manutenção dos órgãos para preservá-los em boas condições, pois é fundamental mantê-los em bom estado para que não haja problemas nesse processo”, explica Ismênia Marques, coordenadora do serviço assistencial da UPA Praia do Futuro. A última vez que a referida unidade passou por uma situação do tipo foi em meados de 2019.
Após a suspeita de morte encefálica, é aberto o protocolo em que são feitos testes. Em caso positivo, a equipe da Comissão Intra-Hospitalar para Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT) é acionada para fazer abordagem com a família e fornecer as devidas orientações e encaminhamento do corpo para o hospital que vai fazer a captação.
“Nesta situação, é a família quem autoriza ou não a doação de órgãos a partir do momento em que é confirmada a morte encefálica. Após isso, órgãos como coração, pulmões, fígado, rins, pâncreas e intestino podem ser doados”, informa Tarcylio Esdras, diretor clínico das UPAs.
Doação de órgãos
Para ser doador de órgãos e tecidos, é necessário avisar à família sobre essa vontade, já que, após a morte, são os familiares que autorizam a doação e retirada. Após a morte encefálica constatada, as doações são direcionadas para pacientes que necessitam de um transplante e estão aguardando em lista de espera. A lista é única, organizada por estado ou região e monitorada pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT).