Dentro da gestão da sucessão, a gestão patrimonial é um desafio para as famílias empresárias. Como assegurar o patrimônio para as próximas gerações? Uma das soluções atende pelo nome de Family Office, uma estrutura própria multigeracional que dá apoio à família investidora na gestão da sucessão e na busca de seus objetivos de maneira alinhada e sustentável. “O Family Office nada mais é que um escritório da família”, afirmou Marcelo Geyer Ehlers, sócio-diretor da INEO – Centro de Expertise em Family Offices e do Instituto Sucessor, durante o painel Governança Patrimonial no 2º Projeto Sucessores, realizado pela Atlas, marca referência em soluções para pintura, construção e casa, com matriz em Esteio/RS e há 57 anos no mercado. O megaevento reuniu um terço do PIB (R$ 45 bilhões) da cadeia de varejo e distribuição do Brasil e da América Latina, de 24 a 26 de maio, em Porto Alegre, e na Serra gaúcha.
Coautor do livro “A Família Investidora e o Family Office”, Ehlers disse que esse suporte ainda é recente no Brasil, com poucos estudos acadêmicos e também cercado por mitos. Entre eles de que a estrutura é um modelo caro, exige uma equipe grandiosa, faz a gestão de ativos financeiros ou é destinado unicamente a famílias que desejam vender suas empresas. Para desmistificar esses estigmas, o executivo da INEO adiantou alguns dados, ainda não publicados oficialmente, da 4ª edição da pesquisa “Family Office Report Brasil 2023”. Segundo a pesquisa, famílias com uma estrutura própria para cuidar do seu patrimônio, independente da empresa familiar, tem custos anuais totais de 0,85%, enquanto famílias que gerenciam seu patrimônio junto a empresa familiar tem custos na ordem de 1,42%.Outro dado aponta que 79,2% das famílias se mantêm no controle da organização e apenas 12,5% venderam sua participação. O levantamento foi feito no período de setembro a novembro de 2022 com 38 famílias empresárias, que representam um patrimônio de R$ 26 bilhões.
INÚMERAS POSSIBILIDADES – Como estrutura dedicada a preservar riquezas de famílias empreendedoras e executar os serviços acordados neste círculo familiar, o Family Office tem inúmeras possibilidades: gestões de educação (desenvolvimento e formação dos membros familiares), de planos de saúde, de riscos, contabilidade, jurídico, imóveis, concierge. Tudo passa pela família, que precisa conhecer seus princípios, seus valores e seus objetivos. A partir disso, é preciso fazer um planejamento estratégico para a família e para o patrimônio, metas que serão controladas pelo Family Office de maneira alinhada aos interesses da família, que precisa ver as coisas acontecendo, evoluindo ao longo do tempo.
“O Family Office é um pilar fundamental na gestão da sucessão e sua missão é perenizar o grupo familiar. Nós recomendamos a criação de uma estrutura própria, mesmo que se opte por terceirizar boa parte dos serviços”, relatou Ehlers, observando que o importante é a família ter uma governança ampla para todos seus ativos incluindo também a empresa familiar. A família investidora passa a ver sua empresa como um ativo ao lado de seus outros bens, sejam eles participações societárias, imóveis, fundos de investimentos. Ou seja, há uma visão global do patrimônio.
EQUILíBRIO – Para Mauro Martin Costa, representante da Eiken Investments e membro do Conselho de Acionistas do Grupo Alfa, é preciso haver um equilíbrio de forças na equação família/negócio. “Qual a empresa que você quer? Quem poderá ser acionista? Como será o controle? O que precisa mudar com o tempo? Essas são algumas definições do negócio, da propriedade, que influenciarão a estratégia, por consequência da governança e sucessão.” Costa explicou que é na família que se desenha toda a questão da estratégia e dos interesses do grupo. Assim como todos os papéis – acionistas, conselho, diretoria e a família – precisam estar muito bem divididos. “Os negócios geram valor, razão pela qual os objetivos e a longevidade devem ser traçados.” Na Europa e nos Estados Unidos existem Family Offices que atuam em múltiplas funções da governança, seja ele representado por integrantes do núcleo família ou através de serviços especializados.
Marco La Rosa de Almeida, sócio da Lobo de Rizzo e que foi mediador do painel Governança Patrimonial, observou a legitimidade do fundador da empresa familiar. Mas ao longo do tempo, a empresa vai criando outras empresas independentes, o que requer, muitas vezes, a organização para que cada negócio seja gerido da maneira possível e de forma independente para não haver contaminação, porque com o crescimento da empresa há a agregação de patrimônios imobiliários e financeiros. “Então, tudo isso precisa de uma governança patrimonial ajustada”, afirmou. De acordo com Almeida, a governança patrimonial é recente e vem ganhando mais atenção profissional no Brasil, mas antes era feita de forma mais intuitiva. “A tendência de famílias que pretendem manter um negócio por outras gerações será sempre a de buscar ajuda de terceiros e organizar o patrimônio conforme a aptidão de cada parte daquele patrimônio de cada integrante da família.”